Hora do bonde

Com os cotovelos e corpo debruçados sobre a base da janela que se defrontava para o beco mal ajeitado; ao som de Vaccine, era tudo que eu precisava para me ver sendo transportada para longe dali. Aquele mundinho vazio, aqueles mesmos rostos, o mesmo vai e vem, as despedidas por que eu havia vivenciado nas últimas estações e que eu já não saberia enumerar me assegurando não faltar com os detalhes, mas restaram as armadilhas desses dias que não guardam mais que lembranças desencorajadoras. Sinto-me como uma folha que o vento leva por este beco sem destino e, com o passar dos dias, por sorte, sem sentir um mínimo suspiro, a chuva lava e camufla os sentidos para dar asas a um recomeço.

Sou a mesma garotinha dantes, com as mesmas manias, e um imenso saudosismo agora em mim veio a pairar, dos tempos em que não precisaria encarar hipocrisia, a dúvida, o medo, porque sozinha aqui tudo se desfaz tão completamente.

As expressões faciais já não trazem a inocência de antes, as palavras carregam o peso dos ritmos avessos. Não há em mim mais as alusões dos dias intermináveis de sorrisos sem maldade, chorar de rir, sem planejar situações e contar com a sorte do fracasso alheio para ter que partir agora... São vinte e sete para as treze horas, o bonde já dá os primeiros sinais de que próximo está.