Cidadão trabalhador

Tavo outro dia comeno uma carninha num bar, quando vi que minha carninha tinha um pedaço de bombril dentro.

Fui cunversá cum dono do bar e dizê que não queria aquele sargado pois tava com carne e esponja.

O home ficô brabo e se arrecramou. Disse que num ia trocá pro causa de que eu já tinha mordido o tar e comido um pedaço e que num ia dá otro.

.Eu disse que tinha comido e que tinha mastigado um tanto ancim de esponja e que antão eu num ia pagá.

No meio das discussão, eu já tava de pensamento em pagá e ir pra casa, pois num gosto memo de confusão.

Nisso entra um sinhô, bem arrumado, almofadinha de terno e gravata e foi abraçano o dono do bar. Vendo a pequena confusão, pergunto o que tava de aconteceno.

- É o caipira aí! Comeu um sargado meu e não quer pagar. (disse o dono do bar).

- Num quero pagá não moço! Quero pagá dispois que trocá o sargado de carne e esponja. Eu pedi um sargado de carne! E só pago pelo sargado de carne! Misto eu num pago!

O moço, todo arrumadinho e cherano a água-vérvia ficou meio de que da cor vermeia e veio falano com grosseria:

- Vai pagá sim! Onde já se viu! Come tem que pagar! Vai pagar e é agora! Você sabe com quem está falando?

Pronto! Quano começa ancim já se apercebi que era uma otoridade, uma excelença, deputado ou senadô ou inté um filho deis. Antão eu fui se arrespondeno:

- Oia moço o sinhô deve de sê iguarzinho a eu. Um cidadão brasilero trabalhadô. Sô fichado, tenho registro, casa pra morá, título pra votá e um monte de imposto pra pagá. Tamém tenho a tar da constituição com o que nóis deve de fazê e a gente protegê!

Antão me alembrei do que vi num jorná: Um deputado federá lá na capitá, pra modi um amigo ajudá, mandô prendê um trabalhadô que tava cum táxi atrapalhano a circulação no lugá, carro grande num pudia passá.

Agora já num tinha mais o que fazê. O moço arrumadinho ia querê me batê e inté mandá prendê por tratá com farta de educação uma otoridade nacioná.

O bar já tava apinhadim de gente a oiá aquela confusão. Mas nenhuma gente se mexia pra defendê um cidadão. Ou tava tudo mundo medroso ou torceno pra mais confusão.

Oiei pro moço arrumadinho, mais vermeio ele ficô. Chegano bem perto de mim cum dedo me apontô, quase no meu nariz enfio:

- Você está falano cum deputado federá!

Já sabeno como a história ia acabá, dei um passo pra de trais peguei um reá no borso da carça, coloquei no barcão do bar e fui me retirá.

Num adianta querê brigá cum otoridade nacioná. Nessas hora num tem aonde nóis corrê pra recramá.

Fiquemo nas mão de Deus pra defendê nosso direito. Mas Deus devia de ta ocupado naquela hora que não pode me ajudá.

A otoridade olhô pra mim e disse que eu estava preso. Ficô cum tanta reiva que mandô a poliça chamá. Disse que eu não podia sair de lá, inté a poliça chegá e por desacato a otoridade pra delegacia me mandô levá.

E lá fui eu, cidadão brasileiro trabalhadô, pela primeira veiz na delegacia entrô.

Mas acho que Deus se desincumbiu das proteção que tava fazeno e se arresorveu me ajudá. O delegado depois de minha histora iscutá, pra casa me mandou levá.

Nóis num temo mesmo é sorti

Nem na vida nem na hora da morti

Nóis vota nas pessoa

Pra mode a nóis ajudá

Eles ganha salário, hora extra e gradificação

Vira tudo sanguessuga e ganha mensalão

E nóis aqui sofreno

E com vergonha da nação.