MESTRE PORTINARI

Penso em ter um filho! E logo. Quero que seja a forma aprimorada do pai, espero que tenha a seriedade do pai.

Nesta repetitiva idéia paterno-moral, precocemente adiantado diante do fato real, sinto minha primeira dificuldade paternal. Sobressaio sobre este incrédulo. Julgo-me um apedeuta!

O nome do meu filho! Como vai ser o nome do meu filho? Questiono, pois o nome tem que ser idéia do pai. Tem que ser minha a sujestão. São os bons costumes que mandam. O homem tem que escolher e pronto. Pensei em Willian. Willian Ceccon, em homenagem a Shakespeare. Em Pablo, pensando em Ruan Picasso. Até em Leonardo, seguindo a idéia de Da Vinci. Portinari Ceccon! Seria ótimo, charmoso, convencionalista. Seus colegas, quanto crianças, oriundo do natural desconhecimento, não entenderiam seu nome. Gargalhariam, ponderariam. Potinari iria sofrer! Mas, apesar dos contrapontos, entenderia. Pois sabia a real importância histológica de seu nome.

Portinari iria usar terno e sapatos lustrosos desde seu primeiro ano escolar. Sua estréia literária, logo após apenas conhecer as primeiras palavras, seria com Memórias Póstumas de Brás Cubas, do mestre inenarrável Machado de Assis. Aos oito anos de idade começariam suas aulas de canto, piano e violão. Completando sua primeira década de vida, teria fluência em quatro línguas estrangeiras. Com quatorze anos, iniciaria nas artes plásticas, no teatro e seria um leitor compulsivo. Com quinze começaria a ler Guyton e Nettina, estudando para o vestibular e logo seria conhecedor de toda a estrutura anatomofisiologia corpórea. Estudaria medicina e seria o neurologista mais renomado e conceituado da sociedade atual. Esnobaria conhecimento!

Já está traçado! Desdenhei o futuro do meu filho. Como vai ser fácil a vida de meu rebento, do meu discípulo. Não preocupará com nada. Foi mais fácil descrever sua pródiga e futura transcedência do que solucionar seu enígma nominal.

Portinari Ceccon. Que belo nome!

Será a forma aprimorada do pai. Será muito aprimorado.