Palhaço Carequinha: Lembranças, aniversários e ensinamentos.

Nos dias de hoje, percebo facilmente o quão as crianças estão órfãs de boas canções e de personagens que poderiam mudar sensivelmente suas vidas. E bem próximo a mim, junto a tantos discos, um de capa  verde  já desgastada pelo tempo e pelo seu bom uso, me fez refletir e fazer algumas ponderações: eis o disco do Palhaço Carequinha.

Tantas canções ali contidas que eu até ousaria em dizer que são verdadeiras cartilhas de boas maneiras e belíssimas lições de gentileza.  Preferir uma a outra é algo quase impossível, mas posso emendar aqui  meu carinho especial pela canção do "Parabéns". a musiquinha que embala e embalou vários aniversários. Saudosismo à parte, foi como se  eu ainda vivesse na Terra do Nunca.


Em se falando de aniversários, lembro das palavras do meu pai que sempre diz: "Aqui em casa nós gastamos dinheiro é com festas, pois, graças a Deus, nunca tivemos que gastar dinheiro com doenças".

Sou a caçula de cinco filhas e todos os nossos aniversários foram lembrados, comemorados, festejados e o tal ritual passou aos meus adoráveis sobrinhos. Ele diz sempre isto, pois graças ao bom papai do céu, nunca tivemos problemas com nossa saúde ao ponto de passar noites em claro em hospitais e tampouco fazer uso excessivo de remédios. E com isto, dá-lhe festas.

Desde que me entendo por gente, no dia dos nossos aniversários, religiosamente, lá pelas 6hs da manhã, acordávamos com a musiquinha do palhaço Carequinha estourando na radiola. Levantávamos da cama com o coração acelerado de felicidade e lá vinha meus pais nos cercar de beijos e presentes. Era aquela velha canção: “Chegou a hora de apagar a velinha, vamos cantar aquela musiquinha, parabéns pra você, parabéns pra você pelo seu aniversário... que Deus lhe dê muitas venturas e paz e que os anjos digam amém, Parabéns”(...),e assim seguia a canção.

O disco do Carequinha ficava guardado junto com os do Trem da alegria, com os da Xuxa, com os do Balão Mágico e era um dos mais pedidos pela criançada. O tempo foi passando e aquele ritual da infância sempre nos acompanhou.

Quando disse anteriormente que aqui não se gastava dinheiro com doença, me enganei, pois minhas quatro irmãs são hoje, modéstia à parte, grandes profissionais da saúde, fizeram faculdades bem longe de casa, lá onde o sonho fora possível de ser alcançado e sempre buscaram aperfeiçoamento profissional.Hoje, convivem com doenças físicas de muitos e fazem o que humanamente é possível fazer para amenizar aquela mácula. Já eu, me enveredei por outra área.

Não foi nada fácil a luta para concluir nossos estudos, tinha época que éramos três cursando faculdade ao mesmo tempo, imagine vocês, quatro casas para serem sustentadas, alimentação, mensalidades, livros, resumindo: contas e mais contas.Cada uma trabalhava como podia para custear os estudos, seja vendendo bombons, vendendo produtos de beleza, de estética e lá íamos aos trancos e barrancos. No meu caso, consegui uma bolsa de estudo na faculdade, e trabalhava no período da tarde com crianças e posteriormente, de voluntária no Juizado Especial, fui contratada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Não reclamávamos, e dávamos valor a cada centavo nosso e de tantas coisas que nossos pais abdicaram por nós, chegando ao ponto de pôr a nossa confortável casa à venda.

Mesmo quando morávamos fora e a fase adulta nos perseguia, lá vinha meu pai, com o disco do Carequinha sendo posto e tocado ao telefone à quilômetros de distância no bendito dia de nosso aniversário. Era choradeira dos dois lados da linha. Até hoje lembramos com carinho do palhaço Carequinha, de seu disquinho verde memorável, e de suas músicas e ensinamentos, que, com certeza nos fizeram pessoas melhores. Lembramos com alegria e entusiasmo, pois o tempo passou e nos fez perceber o quão maravilhoso é ter sempre a criança gritando dentro da gente sem jamais querer viver a sina do acomodado Peter Pan.
Renata Rodrigues
Enviado por Renata Rodrigues em 05/06/2013
Reeditado em 05/06/2013
Código do texto: T4326327
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