Vai descer motorista

Uma noite voltava da universidade. Ônibus superlotado. O motorista generoso, sempre deixava alguém subir. De um em um, entrou tantos. Igual coração de algumas mães. Sempre cabe mais gente.

O processo de verticalização cada vez mais intenso. Trânsito infernal. A cidade perdia qualidade de vida devido ao crescimento desorganizado.

O motorista pedia pra quem estava perto da entrada dar mais um passinho.

O calor começou a ficar insuportável. Tive a ‘sorte’ de sentar no último banco. 'Vai descer motorista'.De licença em licença, fui pagando minhas penitências. Pessoas cansadas, suadas, e estressadas. Como um só organismo, braços, pernas e cabeças; esticados por todos os lados.

Alguns poucos privilegiados estavam sentados. Entre os muitos em pé, alguns idosos e uma gestante. Desrespeito. Na janela um sugestivo adesivo: “Utilize transporte público por um mundo melhor”.

Vitória. Consegui descer. Contudo, três paradas depois. Alívio. O frescor da noite acalmava um pouco os meus ânimos.

Pensava naquelas pessoas. Sem escolhas. A maioria trabalhadora que entre o percurso, tem que matar o seu leão do dia.

Um na ida e outro na volta.