Protestos: Nem tudo que reluz é ouro!




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Nem todo grito é de liberdade!
Tampouco toda notícia é verdade!
Cresci num clima de ditadura militar, onde perguntar era ofensa, criança não se metia em conversas de adultos e falar em política além de proibido, era perigoso. Contudo, aprendi a duvidar!

Nesse clima de temor, proibição e arbitrariedade aprende-se alguma coisa. Com muita dor, mas aprende-se. Aprendi a duvidar porque meus pais tiveram a honradez de duvidar da rigidez do sistema e fizeram de suas dúvidas busca de conhecimentos,  reflexões,  construções coletivas, 
participações cidadãs e,  arcaram com as consequências de seus atos.

Perderam a liberdade por certo tempo, perderam amigos, perderam o trabalho, perderam, perderam... mas não perderam a dignidade de lutar por um ideal.  A ditadura tirou-lhes a liberdade de ir e vir, mas não a de sonhar, e à medida que lhes cerceou com  falsos discursos, ensinou-lhes a não acreditar em tudo que se ouve, vê ou lê. Assim, aprendi com  meus pais que duvidar é o primeiro passo para não se deixar enganar. Duvidar do que parece ser, mas pode não ser... duvidar do que querem nos fazer acreditar, duvidar das aparentes verdades, visto que meia verdade é uma inteira mentira disfarçada... 

Por isso vejo com bons olhos o fluxo de manifestações ao colocar em dúvida e questionar nossa sociedade, mas tenho algumas ressalvas quanto à manifestações desprovidas de reflexão crítica, onde o objetivo aparente é um minuto de fama, aí vale protestar  por protestar... Sinto pela desinformação de alguns manifestantes, os quais por desconhecerem a história do desenvolvimento do país, correm o risco de servir de massa de manobra aos interesses de partidos políticos de olho em 2014.

Antropólogos, sociólogos e filósofos estão em busca de respostas, nós educadores também... Sabemos algumas coisas, insuficientes no momento. Mas sabe-se que é próprio das características do desenvolvimento biopsicosocial do jovem, os conflitos e a importância de externá-los, assim como a necessidade de pertencimento, de identidade de grupo e o desejo de reconhecer-se e ser reconhecido como sujeito social, o que é natural e saudável. 

Sabe-se também que a democratização das redes sociais é um fenômeno social que favorece esse tipo de mobilizações, rompendo fronteiras físicas e imaginárias. Os jovens e a rede estão demonstrando que a globalização digital é capaz de promover ações surpreendentes. Com certeza os políticos estão repensando seus mandatos e sua forma de fazer política. Penso que haverá um divisor de águas, a política antes e depois da rede. Sabe-se ainda, que 'o caminho se faz caminhando' mas, vejo com receio determinados conteúdos circulando pelas redes através de alguns caminhantes...

Por certo, são  pessoas que embarcaram  no trem da história depois da luta histórica pela democracia, o que torna compreensível o desconhecimento sobre como era a exclusão social  até a década anterior. Certamente,  por conta disso, desconhecem também os direitos que hoje lhes são possíveis usufruir na educação, cultura, trabalho, moradia e lazer, graças ao compromisso do governo na implementação da imensa demanda de políticas públicas  na última década, o que vem oportunizando consubstancialmente, a transformação e a inclusão social.

E a juventude redescobre-se, percebe-se com poder... Quer participar! Ora, sempre desejamos jovens protagonistas, isto é digno de louvor se  acompanhado de reflexão e contribuição positiva, pois irá contribuir na formação de novos líderes políticos. Muitos irão descobrir o que é fazer política de fato, o que é democracia, o que é direito e  o que são deveres e, com certeza serão estes que dirão não à falsa ideia de movimentos pela neutralidade da postura apolítica. Oxalá  sejam estes jovens a apontar caminhos para as injustiças sociais ainda não vencidas, diferentemente daqueles que, simplesmente por estarem com os ânimos exaltados quebram, picham, soltam bombas, depredam patrimônio público e privado, saqueiam, queimam... 

Não deixemos que os ímpetos mais rudimentares ou que a falta de informações e interesses escusos, transformem este movimento de cidadania num retrocesso do processo democrático e da redescoberta do protagonismo juvenil.
O diálogo deve permear as relações democráticas. Portanto, que este momento da história sirva para fortalecer  o amadurecimento de nossa tão jovem democracia. Sirva para aprender a duvidar e ir em busca de aprofundamento crítico aos conhecimentos. 

A propósito, o que será que  a Copa do Mundo representa realmente para o país? A dúvida é o começo para desmistificar chavões e bordões que, incessantemente, tentam nos convencer de 'verdades absolutas'. Lembro-me que num tempo nem tão distante, a dívida externa era impagável,  o Brasil tornar-se a 6a. economia do mundo era demagogia, o salário mínimo chegar a 300 dólares,  era apenas promessa de campanha... Bem, me parece que precisamos refletir, afinal a dúvida de alguns, tornou-se a realidade de muitos. Então ai que duvidar...
  

E, se nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que digo, é absoluto... o que não se pode é ficar na superficialidade das informações. Afinal, o Ministério da Prudência adverte: "O senso comum é podre e pode contaminar..."
Desta feita, se conseguir provocar o desejo de busca à novas informações, valeu meu labor neste texto.  

 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 19/06/2013
Reeditado em 29/06/2013
Código do texto: T4348329
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