O CREME E O GUARDA-CHUVA

 
Depois dos atentados terroristas a vigilância em aeroportos aumentou, temos quase que nos despir antes do embarque. Casacos, echarpes, bolsas, cintos, chaves, moedas e tudo o que o que estiver conosco deve ser depositado numa bandeja. Muita gente reclama, mas acho que a medida é mesmo em nosso favor. Enquanto aquilo tudo passa pelo raio X, nós, sem sapatos, passamos debaixo de outra máquina. Pois bem, embarcando em Barcelona, ao término dessa operação fui interceptada por um funcionário que perguntou se eu levava água na frasqueira. Foi então que me lembrei de um pote de creme que distraidamente carregava ali. Tive que deixá-lo por lá e seguimos para a França.

Em Paris pegamos uns dias de sol e outros nublados com chuva intermitente. No final da temporada, cansados de andar molhados pelas ruas, compramos um guarda-chuva. Nem tivemos o gostinho de usá-lo, até parece brincadeira, bastou estar com ele, não choveu mais. Na hora de arrumar as coisas para o retorno, ele não cabia na mala! E agora? Será que vamos ter problema?... Já deixei um dente em Lisboa, perdi um creme na Espanha, esse guarda-chuva eu faço questão de levar!

Chegando ao aeroporto, ainda na fila para o check-in, uma funcionária olhou para o guarda-chuva e foi dizendo que não era permitido entrar com ele na cabine. A moça do check-in disse que não podia amarrá-lo em nenhuma de nossas malas por causa da ponteira. Tampouco o aceitaria como outro volume porque certamente iria se quebrar. Tinha certeza de que podíamos carregá-lo com a bagagem de mão. Ficou a dúvida...

Na hora do raio X, com cara de inocente, pus o guarda-chuva na bandeja junto com minhas tralhas. Depois que passei pelo ‘arco’, comecei a ouvir pi-pi-pi... Pronto, vou ser interpelada novamente! Eu já ia me virando para o funcionário quando um rapaz se adiantou e pegou uma mochila da esteira. O alarme soou porque o notebook dele estava lá dentro! Eu e meu marido passamos incólumes.

Quanto ao ‘marronzinho’, viajou quietinho naquele compartimento destinado a pastas e casacos dentro da cabine do avião.  Só veio a cumprir sua missão aqui no Brasil.




(*) foto da autora: meu filho, meu marido e o guarda-chuva no Parc Montsouris, em Paris