Meu grande inimigo: Eu

Já fui pobre, lascado, comia o que tinha, quando tinha ou quando dava por caridade a vizinhança. Mas nem tudo era ruim, porque eu tive o privilégio de passar por uma escola e literalmente foi isso que fiz, pois eu era um péssimo aluno, preferia brincar a estudar, ser ignorante a ser estudado, e ainda achava que eu estava certo e não aqueles professores que depois de muito investimento em mim, desistiam e por mais um ano fazia a mesma série. Era sim um repetente costumás e quem ligava? Ninguém, e engana-se quem pensa que quando se repete se aprende, isso é pura mentira, porque das vezes que fui reprovado, de aprendizado nada me foi acrescentado a não ser o ódio mortal que guardava no meu íntimo daqueles que eram os meus maiores inimigos. O Sr. Matemática tão cheio de números e fórmulas; o Sr. Geografia, que viajava por lugares que eu tinha certeza que nunca visitaria e o Sr. Português, tudo tão certinho, verbos de ir e de vir, mas eu mesmo nunca ia, mas lembro-me da qualificação que ele me deu “incapacitado coxo de intelecto”. Tempos depois descobri que ele metaforicamente me chamou de burro na cara dura, mas não reagi à época porque não tinha certeza do que ele tinha me chamado. Bom, um desses meus “inimigos” até que camaradamente me disse certa vez: - Sabe Bombril, a vida é a melhor escola e o melhor professor é o tempo e seu inimigo está mais próximo de você do que você imagina. Confesso que daquilo que ele falou só entendi Bombril, porque esse era meu apelido, por causa do cabelo grande, crespo e macio. Não, não sou negro, sou eu mesmo. Hoje fica fácil entender aqueles enigmas que me eram apresentados na adolescência e também entendo cada um daqueles professores que se esforçavam para ensinar alguém que não queria aprender, é como se fosse eu um náufrago ilhado que não desejava ser resgatado e dispensa toda e qualquer ajuda. É como a ovelha perdida daquela parábola, com o único diferencial, ela queria ser encontrada, já eu... Bom, a grande verdade foi que quando finalmente conclui meus estudos (8ª série, na época) não quis mais estudar, de fato eu nunca quis. Bem, resolvi trabalhar para ter meu sustento e de minha santa mãezinha, que acreditava que eu seria um doutor de anel no dedo algum dia, coitadinha, quanta decepção. O tempo passou e eu aprendi a duras penas que meu único inimigo na vida era eu mesmo, porque os professores indicavam-me o caminho, a direção, que eu devia seguir, mas nunca segui. A vida, algumas vezes considerei como minha inimiga também, mas ledo engano, pois a vida nos desafia e testa nossas habilidades de sobrevivência nada mais. Enfim o ser humano é inimigo ferrenho de si mesmo quando insiste em se prejudicar, mas nunca é tarde para reencontrarmos o caminho e aceitar o desafio de viver, porque eu consegui, e por correspondência terminei de fato o estudo e mais tarde fiz cursos técnicos e me formei em torneiro mecânico. Fui empregado por muitos anos e hoje tenho minha oficina de tornearia e presto serviços para grandes autorizadas no seguimento automotivo. É isso aí, precisei derrotar meu grande inimigo (Eu) para poder vencer, agora eu sou meu melhor amigo. Quanto a minha mãezinha, morreu, mas não antes de ver o lindo anel de doutor que comprei, coisa linda, safira azul com aro de ouro. Hoje nas minhas palestras deixo claro para todos que nunca devemos desistir, que na vida o grande inimigo que temos somos nós mesmos, porque quando nós não nos permitimos aprender, achamos que todos estão contra nós, buscamos culpados, que na maioria das vezes estão muito mais perto de nós do que pensamos. Isso se chama transferência de responsabilidade. Infelizmente o ser humano é assim, todos são culpados por nossos problemas, menos nós mesmos. Comecem a pensar sobre isso.

Castilho Benício
Enviado por Castilho Benício em 20/06/2013
Reeditado em 12/02/2024
Código do texto: T4350166
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