MAR: NEM TÃO ELEVADAS… MAS TÃO FUNDAS PAREDES!


Navegamos a bordo do Catamarã Galileo da Aquáticos Centro de Mergulho em direção ao Horizonte, buscando encontrar as famosas ‘Paredes’, início do limiar das profundezas abissais e a plataforma continental. Na popa, a cidade do Recife e a nossa base operacional foram desaparecendo a cada nova milha alcançada.

Cerca de três horas depois chegamos a um local conhecido como Paricé, onde foi percebido no instrumento Sonar uma geografia do fundo do mar como degraus de uma escadaria, indo dos 80 até 120 metros. Jogamos uma garatéia amarrada ao cabo e fomos rapidamente descendo, eu, Rafael e Gaba, nosso Instrutor Trainer da Aquáticos.

O mergulho foi iniciado usando-se EAN 32 (S40), até os 15 metros, trocamos para TRIMIX 14/50 (DUPLA 15 litros) com o qual fizemos o tempo de fundo. Após 4 minutos de descida na imensidão azul, como uma clareira na mata, avistamos um belo local, cenário perfeito, onde o aparelho náutico havia repousado.

Estávamos aos 90 metros! A água muito limpa e muito tranqüila nos permitiu instintiva e inesperadamente irmos até o fundo daquele degrau, mesmo sabendo que iríamos ultrapassar o limite dos 80 metros inicialmente combinados. Ficamos bem próximos de um descimento abrupto - muito íngreme e de cores convidativas - o qual batizamos de JAME’S HOLE, em homenagem ao nosso Security Diver, o mergulhador James, que ficou nos monitorando no nível dos 30 metros desde a superfície.

Sob a grande massa de água a paz era absoluta e a friagem foi logo esquecida. Permanecemos ali cerca de onze minutos. Longos onze minutos. Uma grandeza extraordinária. Uma grande trégua dos problemas do nosso mundo. O fundo é formado por areia branca e vegetação rasteira. Cada um de per si, enfiou o dedo indicador naquele suave terreno, num desejo de marcar a nossa visita, sem violar a natureza. Era como se estivéssemos fincando nossa bandeira. Vimos peixes enormes, tais como; Arabaianas, Sirigados, Pirás e Frades de tamanhos inimagináveis, que, subindo do JAME’S HOLE, chegavam bem próximos para nos observar. Pelo porte de cada um daqueles animais, estaríamos em grande desvantagem se qualquer um tivesse tendência para agressividade.

Começamos a subida até os 39 metros, quando reutilizamos o cilindro contendo EAN 32. Daí até chegarmos aos 21 metros e, em mais uma troca de gases, passamos a usar o EAN 50 (S40). Ao final, trocamos pela última vez os reguladores para respirarmos OXIGÊNIO (S40) aos 6 metros. Fizemos uma Deep Stop aos 66 metros (Corveta Camaquã agora é Deco pra gente!). Cumprimos na risca o planejamento elaborado previamente no computador, fizemos o perfil um pouco diferente do planejado (para 80m), mas cumprimos na prática o estabelecido para a contingência dos 90 metros. Para aumentar a segurança quanto a eliminação de gases, acrescentamos um minuto de parada a cada metro de subida entre os 6 metros e a linha d’água. Tempo total: 70 minutos.

De verdade, todo mergulhador deveria se preparar para mergulhos nessas profundidades, pois que, o mergulho técnico não é nenhum bicho de sete cabeças e somente vem para aperfeiçoar a motivação recreacional - que não deixa de existir em nenhum mergulho - exigindo tão-só mais acuidade, planejamento, limites e controle do mergulhador sem impedir o prazer da atividade subaquática. De volta ao barco, cantamos felizes o Hit ‘WE ARE THE CHAMPIONS’ da banda inglesa The Queen, celebrando uma grandiosidade difícil de compreender, o nosso raro e belo feito.

MARCELO RUSSELL
Enviado por MARCELO RUSSELL em 21/06/2013
Reeditado em 25/06/2013
Código do texto: T4351447
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