POSTINHO DE SAÚDE

Todos os dias pela manhã passo pelo mesmo local – a movimentada avenida que me leva ao meu trabalho. E quase todos os dias há pessoas esperando para serem atendidas.

Mas o que me chama a atenção não é o problema das pessoas estarem ali para serem atendidas, pois ali é o lugar de atendimento. O que me chama a atenção é, em certos dias, as filas. Mas também notei que as filas sempre acontecem no começo de cada mês. Fiquei muito curioso com o problema e comecei a investigar.

Tenho muito dos meus alunos que por serem da comunidade freqüentam o tal Postinho de Saúde. Então questionei. A resposta foi rápida:

- É que no começo do mês, professor, são marcadas as consultas para determinadas especialidades, que são difíceis de encontrar durante o restante do mês. Algumas especialidades possuem apenas dez guias mensais!

Pensei comigo: ‘Meu Deus! Em que mundo estamos!’ E continuei sempre a observar o movimento naquele local. Todos os dias há pessoas a consultar um médico – ‘Quantos doentes de meu Deus!’

Mas pensando e observando tudo isso, outro dia precisei de médico. Fui a um, melhor, como funcionário público, fui ao local indicado. Médico havia – mas para alguns dias depois; marcada a consulta, retornei no dia indicado. O médico atendeu-me prontamente (eu já sabia o que eu tinha), solicitei algumas informações mais e chegamos a conversa final – eu precisava (e preciso) passar por uma cirurgia, nada grave, mas preciso – e o pior: as cirurgias estão suspensas! Só em caso de risco.

Interessante: se eu tiver à beira da cova, vão fazer a cirurgia que preciso, se eu morrer antes, melhor. E acrescentou:

- Não é culpa minha, o Sistema (quer dizer, os governantes) está suspenso nestes casos de cirurgias. Como o seu caso não é nada grave, vamos aguardar. Mas se acontecer de piorar, procure o setor de emergência.

Fiquei a olhá-lo como se eu fosse um produto que estava sendo ‘negociado’. Segundos depois perguntei o custo, nada tão pesado – nada que prejudicasse os cofres públicos. Mas pagamos tantos impostos e há tantos descontos em nossos salários que dá vontade de... – sei lá o quê! Imagino quem não pode pagar nada, como devem ser atendidos – pois sei que há profissionais e ´há profissionais’ – e cada um entenda como bem achar.

02 de abril de 2007.

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 02/04/2007
Código do texto: T435311