A Belina desbotada

Nélida, minha amiga luzense, formou-se em Engenharia Florestal na Universidade de Viçosa e, depois de certo tempo, mudou-se para os Estados Unidos onde se casou. Lendo minha crônica “Pimenta nos olhos dos outros” relatou-me um fato semelhante acontecido também com ela quando tinha de 13 para 14 anos.

Sua família atravessava um período de forte crise econômica. Seu pai precisou vender os imóveis e, com muito pesar, também a Belina nova. Restou como condução da família somente uma Belina que de tão velha a pintura marrom desbotara-se quase totalmente. Todos os habitantes de Luz já identificavam o carro do Sr. Nilo Pinto pela sua cor de “burro fugido”. Havia um grande furo no assoalho do carro por onde entravam os cachorrinhos vira-latas todas as vezes que percebiam que seu dono iria sair. Sr. Nilo achava aquilo o máximo!

No ano de 1975 faleceu um coronel tio-avô de Nélida na cidade de Dores do Indaiá. Ele era de uma família muito conceituosa na política local. Durante vários anos exercera o cargo de prefeito da cidade e em seu velório compareceram muitas autoridades inclusive o Governador de Minas.

Nélida acompanhou seu pai na viagem para Dores. Ele também era um farmacêutico muito conhecido na cidade. Sua mãe não foi pois não poderia faltar ao trabalho devido à crise financeira porque passavam.

Nélida bolava um plano para descer antes que surgisse a residência da família do tio pois morria de vergonha em chegar naquele caiau de carro. Pediu ao pai que a deixasse na esquina que ela iria passar na casa da amiga Roselena para juntas comparecerem ao enterro. O pai acreditou e de nada suspeitou. Desta forma ela acabou de chegar à casa do tio a pé.

Depois do enterro os familiares e amigos se reuniram na casa do tio para um cafezinho e prosear um pouco lembrando a trajetória do tio-avô. Quase na hora de regressarem para Luz, Nélida pediu ao pai que a pegasse novamente na casa da amiga.

Estava dando tudo certo, mas para voltar para Luz teriam que passar em frente à casa do tio que estava cheinha de gente. A moçadinha estava sentada na calçada. Torceu para que seu pai passasse bem depressa. Quem sabe ficassem despercebidos.

E o pior aconteceu. O carro parou de funcionar, afogou bem em frente à casa. E todos viram Nélida empurrando o carro.

Depois deste constrangimento todo, Nélida ficou um tempão sem ir a Dores....

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 22/06/2013
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