VÂNDALOS E BADERNEIROS

Sobre o assunto o artigo do Rodolpho diz tudo. Leia.

Esta noite fui ao cemitério para conversar com as almas de três alemães: Georg Simmel (1858-1918), Ralf Dahrendorf (1929-2009), Lewis Coser (1913-2003), os três ultra especialistas em conflitos sociais. Contei a eles das barbaridades que o povo brasileiro vem praticando com passeatas, protestos, vandalismo, badernas, destruição do patrimônio público. A princípio, as três almas (Simmel, Dahrendorf, Coser) se entreolharam. A seguir ficaram transtornadas de raiva, e passaram a me xingar com xingos intraduzíveis (em alemão), por eu ser tão burro.

“Se o patrimônio é público, então é do povo, e o povo pode fazer com esse patrimônio o que quiser!”

“O Palácio dos Bandeirantes não é do Alckmin, é do povo, e o povo pode destruir o Palácio dos Bandeirantes a hora que quiser.”

“As Prefeituras não são dos Prefeitos, são do povo, e, sendo assim, o povo pode invadi-las, depredá-las, demoli-las, quando e como quiser.”

Nesse momento ouvi uma voz cavernosa. Virei-me, e dei de cara com a alma do brasileiro Raimundo Faoro (1925-2003):

“Eles têm razão”, disse o Faoro, “o patrimônio é do público, e os governantes não passam de empregados do público, encarregados de executar, com esse patrimônio, aquilo que o público exigir. Acontece que esses governantes, como é de praxe, se apossam desse patrimônio, usurpam esse patrimônio, e se recusam a devolvê-lo ao povo, que é o legítimo dono desse patrimônio. Por esse motivo é que surgem os conflitos sociais, as revoluções, as guerras civis, cuja finalidade é exterminar esses ladrões do patrimônio público, que se travestiram, de empregados do povo, em donos do povo”.

As outras três almas, Coser, Dahrendorf e Simmel, ficaram olhando para a minha cara espantada, e caíram na gargalhada.

“Vândalos e baderneiros”, disseram eles, “são esses ladrões, esses bandidos, travestidos de governantes, que desapropriam ruas inteiras para fazer maracutaias com as empreiteiras, abrindo avenidas e etc, e sem pagar jamais os antigos proprietários. Vândalos e baderneiros são esses governantes que constroem palácios faraônicos para abrigar meia dúzia de funcionários públicos estáveis, vitalícios, inamovíveis, com salários mais faraônicos ainda. Vândalos e baderneiros são esses governantes que colocam 39 ministérios quando os EUA só têm 23 e a Alemanha só tem 19. Vândalos e baderneiros são os governantes estaduais que têm 26 secretarias, quando 10 já seriam demais, tudo para dar empregos faraônicos a seus apaniguados. As prefeituras todas têm mais de 20 secretarias quando 8 seriam mais do que suficientes”.

Sai do cemitério depois de ter agradecido às almas pelos ensinamentos e esclarecimentos que me forneceram, e refleti que os gritos histéricos da imprensa de massa, rotulando o povo, o verdadeiro dono do patrimônio público, de “vândalo e baderneiro” não tem força alguma diante da mídia alternativa que atualmente domina o mundo.

Rodolpho

advwro@uol.com.br