LUPI, UM CÃOZINHO ....(Crônica do dia a dia)
 
Eu o chamo sarcasticamente de “tiu”, com a deslavada intenção de aborrecê-la. “Tiu” não é aquele mísero cão sem dono que lhe aparece inesperadamente, estranho, cabisbaixo, raramente sadio, olhando-o desconfiado, súplice ainda a mendigar um velho osso? Sim, este é o velho “tiu" como sabidamente o conhecemos, um deserdado, um sem nome, um reles e humilhado cão desconhecido.
Pois bem, este é, reconhecidamente, o genuíno “tiu, e, certamente, é o que a Érika, minha filha, imagina ser, por guardar tamanha bronca a me ver dirigir ao seu cãozinho.
--- O nome dele é Lupi, pai! Corrige-me na tampa enquanto alisa a cabeça do pequeno “poodle toi”.
Muito bem --- replico --- o nome dele é Lupi... mas veja só os olhinhos desse porcaria, podia muito bem chamá-lo de bibelô, bolinha, ou melhor: balaio; balaio pela pelagem; isso mesmo, balaio lhe cairia muito bem!... Agora, perder tanto tempo para apelidar o bichinho de Lupi?!!! Lupi é nome pomposo, é nome de Ministro de Estado! (Alfineto-a e prossigo me deliciando com sua irritação) ... Mas sejamos sinceros: que não seja balaio pela pelagem, que não seja bibelô pelos olhinhos, nem Lupi pelo Ministro, o nome que melhor lhe recairia pela fedentina que causa na casa seria... você bem sabe, não é?
--- Ora pai, não seja tão severo com ele!
Lupi, como quer a Érika, é um cãozinho redondo qual uma barrica, totalmente recoberta por farta pelagem brança, embora o contato constante com o chão a traga frequentemente encardida; olhinhos de um negro marcante ficam encravados e recobertos pela cortina dos longos pelos a descer-lhe pela testa. Marqueteiro de primeira linha, ao menor estalo de dedos se coloca de barriga pra cima a nossos pés. É cativante o malandrinho.
Mas hão de indagar da minha pretensa implicação de desprezo com o “tiu”, “tiu” não, caramba!, Lupi.
Vamos lá. Não se trata de nenhuma rabugice entalada em mim, mas, sim, de simples molecagem cuja finalidade é apoquentar a paciência da Érika, ao tempo que ensejo descarregar o meu aborrecimento  lícito e natural pela disposição do seu cãozinho desconhecer os cinco mil metros quadrados da chácara e --- curiosa e importunadamente, ---vir fazer suas necessidades dentro de casa!
Ensiná-lo, corrigi-lo, foi frustrante.
Outra dele? Que digam os meus destruídos chinelos.

 



Aviso aos amigos(as) do RL que a Edit. Biblioteca24Horas acaba de lançar o meu livro Crônicas do Meio da Tarde, disponível no site: 
                             www.biblioteca24horas.com

Futuramente na Livraria Cultura.

 
moura vieira
Enviado por moura vieira em 29/06/2013
Reeditado em 15/07/2021
Código do texto: T4364007
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