Meu ídolo é o Capitão Nascimento



Minha sobrinha foi assaltada há um mês. Coisa rápida de alguns segundos, arma na mão e a voz do bandido dizendo: “ou passa tudo ou morre”.
Minha sobrinha tem 19 anos e mora em uma cidade de 70 mil habitantes no interior do Paraná.
Há três semanas uma colega de trabalho teve o carro e a bolsa roubados quando chegava no aniversário de uma amiga. Dois “menores” de arma em punho realizaram tudo com a frieza característica de quem sabe que não será punido, pois há um estatuto que protege adolescentes.
Hoje, uma outra amiga do trabalho foi abordada quando chegava em casa por dois garotos que, entre palavrões e ameaças de morte, levaram a bolsa, as compras do mercado e o óculos de grau dela.
Em um mês, três pessoas próximas a mim passaram por situação de risco, foram ameaçadas por armas, abaladas emocionalmente, submetidas a um trauma, desrespeitadas em seus diretos e por fim lesadas materialmente.
Fica a questão, portanto: o que está acontecendo com o que deveria ser nossa segurança pública?
Questiono isto, porque parece que está havendo uma inversão de valores.
Há algum tempo, (também parece apenas para mim), que temos vivido um aumento da proteção dos supostos “direitos humanos”... dos bandidos.
A cada dia, nós, que trabalhamos, criamos filhos, pagamos impostos, cumprimos com nossas obrigações legais, fiscais, éticas e todas as decorrentes de qualquer pessoa decente, estamos cada vez mais acuados em nossas casas e em nossos movimentos.
A impotência que sentimos diante do aumento da criminalidade e da proteção aos direitos de bandidos é tanta que muito em breve será revogado, para nós, todo o artigo 5º da Constituição Federal, especificamente os incisos XI e XV que falam da inviolabilidade da casa do indivíduo e da livre locomoção do território nacional respectivamente. Porque, vamos se sinceros, nossas casas têm se transformado em fortalezas, verdadeiras prisões para nos mantermos presos e distantes de quem? Da bandidagem.
Livre locomoção? Quando? Quando saímos ou chegamos em casa despreocupados com assaltos e agressões ou quando caminhamos tranquilamente na volta da escola dos nossos filhos e somos abordados por “cidadãos” que cada vez mais se vêem no direito de nos agredir impunemente?
O caos é tão grande e a falência da segurança pública tão notória que hoje em dia é comum ver policiais sendo punidos porque agiram com “truculência” diante da agressividade e da ousadia de “cidadãos” que sabem que se gritarem um pouco mais alto, serão notícias como mais uma vítima da agressão policial.
Não sou expert no assunto, aliás, não passo nem perto disso e nem quero ser. Sou apenas uma cidadã que se vê cada vez mais coagida pela criminalidade. Mas, para mim, uma coisa é certa: se há risco, se há violência, se há desordem a polícia tem que agir. E com as ferramentas com as quais foi treinada. Se diante do comando do “deixa disto”, “vamos circular” ou mesmo diante da voz de prisão, não há obediência, a obrigação da polícia é proteger. Nem que para isto tenha que submeter o baderneiro, pregar a cara dele na calçada ou usar a força para manter a ordem e a segurança.
É neste contexto que a inversão de valores se mostra mais clara.
Atualmente, o policial está tão visado e tão inseguro diante das ameaças de processos, exclusão, advertências e punições que fica em duvida se age ou se revela a conduta do bandido.
Em tempo: bandido de ordem, situação, classe e local.
Deve ser um dilema para o policial, uma situação realmente angustiante: impedir a ação da bandidagem e  deixar em segurança pessoas como a minha sobrinha, ou sofrer acusações de “uso excessivo de força” e ser excluído da corporação como criminoso.
Aliás, parece que atualmente é bem mais fácil condenar pessoas de bem que punir criminosos. "Parece", mas pode ser que eu esteja enganada.
Também é estranho pagarmos por segurança pública (dentre tantas outras coisas públicas) e não nos sentimos seguros. Mas também é isto que está acontecendo e faz tempo. Então, achamos soluções e tentamos nos proteger de outra forma: pagamos também pela segurança privada.
Mas não pára por aí. A segurança privada tem seus desdobramentos: monitoramento, câmeras, cercas elétricas, alarmes, rastreamento, cães treinados, sensores, enfim, uma parafernália para nos separar do mundo lá fora e pior disto tudo, é que estamos começando a acreditar que é normal.
A coisa tá tão estranha que temos sensores de alarme dentro da nossa própria casa, portanto, já não temos o tal direito de ir e vir nem dentro da nossa propriedade.
E porque?
Porque a polícia não funciona? É só isto?
Não! Porque passamos a acreditar que temos que aceitar que a criminalidade veio para ficar. Mas é um erro.
Em algum momento, teremos que começar a reinvindicar a nossos governantes que assumam definitivamente os papéis para os quais foram eleitos e cumpram com as obrigações mínimas para nós, que ironicamente parecemos não estar protegidos por nenhuma “ong” ou por nenhuma instituição de “direitos humanos”. Caso contrário, é jogar a toalha e construir um bunker para nos dar a falsa sensação de segurança.
Confesso que estou um pouco indignada com a situação. E indignação é algo complicado, exige de mim leitura, pesquisa, resposta que convença, que explique o porque desta bagunça. E, contrariando minha própria promessa de não me inteirar mais do que não muda nunca mas só aumenta minha impotência, lá fui eu pesquisar um pouquinho, dar uma lida no cenário do meu Estado e fiquei pasma.
Descobri que “restrições orçamentárias e fiscais não permitem que o governo do Estado contrate mais”. Neste caso, o governo do Estado do Paraná onde moro. Muito bem.
Nesta “leitura básica” descobri também que o Estado do Paraná tem o segundo pior contigente da polícia militar do Brasil ficando atrás apenas do Maranhão. É mais ou menos assim: temos 1 policial militar para aproximadamente 670 paranaenses.
Fiquei assustada e me perguntei quantos dos 669 restantes podem colocar minha vida em risco, e a dos meus filhos, parentes, amigos...
Além disso, li que apesar da população do Estado ter crescido em média 10% nos últimos anos, o número de policiais militares caiu na mesma proporção.
Opa! Tem alguma coisa errada aí! Até eu notei.
Como já disse antes, não entendo nada de segurança pública, política ou gestão militar, mas de matemática básica entendo. Se a população aumentou, o número de policiais não deveria ter aumentado também? Proporcionalmente? A menos que a criminalidade tenha diminuído, mas não foi isto que aconteceu.
A criminalidade no Paraná cresceu nos últimos anos, ultrapassando inclusive cidades problemáticas como Rio e São Paulo. A região metropolitana de Curitiba, na última década, se transformou em uma das regiões mais violentas não do Estado, mas sim do Brasil!
Estes índices estão disponíveis para consulta pública e mesmo diante destas evidências, o contigente das polícia militar e civil não pôde ser aumentado em virtude das tais restrições fiscais e orçamentárias.
Tudo bem. Há leis de diretrizes orçamentárias e precisam ser cumpridas, mas eu questiono: não houve previsão de reposição deste contigente?
Não houve projeção para crescimento similar ao da população e ao da criminalidade?
Não houve planejamento por parte dos governantes e comandantes gerais para reposição do quadro mesmo sabendo que em média 800 policias militares saem da corporação por ano e mais de 6000 já atingiram os requisitos para aposentaria?
Não houve previsão de gastos em virtude da necessidade de aumento do contigente e consequentemente proposta de aumento orçamentário?
Em outra leitura rápida, um comandante dizia que o último concurso público para ingresso na polícia militar foi o maior da história do Paraná.
Ótimo! Parabéns! É isto aí!
No entanto, isto não é motivo para exaltação e nem pode ser visto como novidade. É obrigação! Não houve uma aquisição. Está havendo uma reposição onde há uma defasagem de fazer chorar.
Dos 26,7 mil policiais militares, segundo a lei orgânica PM, e que deveriam ser o efetivo do Paraná, ainda tem muito chão.
Vamos torcer para que as "restrições fiscais e orçamentárias" soprem em nosso favor.
Gestões mais efetivas e eficientes também!
Porque, mesmo sendo uma completa ignorante no assunto, para mim, parece ser razoável que o número de policiais é fator imprescindível para a boa condução da segurança pública. Ou não é?
Isto em qualquer estado brasileiro. Em qualquer tribo no mundo. É básico! Chega a ser gritante de tão claro!
Portanto, depois de ler um pouco, minha indignação só aumentou.
E aumenta à medida que fico sabendo que pessoas de bem são assaltadas a qualquer hora e passam a aceitar que isto é “normal”.
Aumenta quando vejo o descaso das autoridades.
Aumenta quando vejo segmentos que deveriam ser aplaudidas pela população e hoje são escrachadas porque estão repletas de má administração, corrupção e desmotivação.
Aumenta quando vejo tantos discursos vazios, tanta egos exacerbados e tanta desculpa esfarrapada.
Mas... há sempre um conforto.
De vez em quando alguém tem uma ideia brilhante, faz um filme, lança um herói e momentaneamente eu até quero acreditar.
No caso da segurança pública, meu ídolo é o “Capitão Nascimento”.
Com ele é sem conversa fiada, sem politicagem, sem negociação.
Bom seria se tivéssemos um Nascimento em cada estado deste país.
Ou talvez não.
Porque, então, também estaríamos correndo um risco...
Ficar sem governantes.



Imagem: google
 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 01/07/2013
Reeditado em 01/07/2013
Código do texto: T4366625
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