UM DESABAFO POST MORTEM

UM DESABAFO

POST MORTEM

PELAS PERDAS DE DOIS AMIGOS

Queridos e inesquecíveis amigos Dr. LUIZ GERALDO MEYER e AMÉLIO CIPRIANI – meus ilustres compadres, conforme o Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa, o substantivo masculino desabafo quer significar a “franca expansão de sentimentos e pensamentos íntimos” – e é isto que, em síntese, vou fazer, aqui, após as mortes de ambos, ocorridas, respectivamente, a 10 de junho p. pretérito (10.06.2013) e 27 de junho p. transato (27.06.2013), nos municípios de Urubici – aquele, e no de Biguaçu – este, visto que tenho de desabafar o que sinto dentro de mim em relação às pessoas de cada um, os quais, privilegiadamente, moraram no meu coração e um e outro muito marcaram a minha vida, por tudo o que foram e pela altivez de que sempre foram possuidores. Foram os dois, portanto, pessoas raras e verdadeiros guerreiros, neste mundo cão, em que poucos merecem credibilidade e podem ser chamados de amigos, como o foram na acepção mais apropriada da palavra, já que gostavam de outros com os quais conviveram, nas horas fáceis e difíceis, sem o interesse doentio de conseguirem aquilo que queriam.

Meus prezados e inolvidáveis compadres, o universo, segundo os cientistas, tem uma existência de cerca de treze (13) bilhões de anos – e o planeta terra, do nosso sistema solar, foi formado há quatro (4) bilhões e seiscentos milhões de anos, e, conforme eles – cientistas, a nossa estrela mãe, de quinta grandeza, o SOL, tem combustível para queimar, ainda, por cinco (5) bilhões de anos, quando tudo o que existe (no nosso sistema solar) terá o seu fim. Isso significa, portanto, meus caros, que, se tudo correr certo, sem nenhum percalço, na terra poderá haver vida, ainda, por mais cinco (5) bilhões de anos, para a felicidade das gerações futuras, e que a vivência de cem (100) anos, ou mais, nada representa.

Pessoas iguais a vocês, pois, deveriam, com forças e lucidez, viver mais de cem (100) anos, para a alegria de todos que estimavam cada um, pelo que eram e sempre foram.

Tu, meu compadre LUIZ GERALDO, que eras um médico ginecologista famoso, com uma boa clientela, abandonaste a medicina e foste para serra, para te dedicar ao cultivo da maçã, numa parceria imprópria e temerária com teu irmão e, infelizmente, isso não produziu o que esperavas, haja vista que, como já dizia o meu querido e saudoso pai, a pior cunha é a do mesmo pau, ou a da mesma árvore – o que levou ao encurtamento de tua preciosa vida e vieste a falecer por problemas cardíacos, certamente por desgosto em virtude de tudo por que passaste, mas, de ti, querido amigo, nunca ouvi reclamações, ou lamentações, pois tu eras forte, um guerreiro, um homem de bem e de bons princípios, e sempre tinhas uma palavra amiga para outros, com o teu sorriso característico nos lábios.

Em suma, meu dileto amigo, tu foste aquilo que muitos poucos o são – e, por isso mesmo, digo-te e repito que tu foste um verdadeiro amigo, nas horas fáceis e difíceis da minha vida, porque sempre tive a tua preciosa atenção, quando estavas no auge e em derrocada, mas, para mim, apesar disso, tu eras o mesmo de antes, ou, até, mais, uma vez que merecias uma maior consideração.

E tu, meu estimado compadre CIPRI, como eu te chamava, lutaste, desde jovem, com muito esforço e tenacidade, pelo que tu querias – e conseguiste graduar-te em administração pela UDESC e em matemática pela UFSC, quando, então, abraçaste o magistério e passaste a conhecer e a ter um séquito de admiradores, por tudo o que eras e fazias com desprendimento, garra e seriedade – próprios de pessoas de origem italiana e, assim, levaste a vida por muito tempo, até que, mais tarde, entraste na política, mas esta, embora nela tenhas galgado cargos importantes, não era condizente à tua pessoa, porque o teu mister, em verdade, era outro, como tu bem o sabias. Mais tarde, porém, requereste a tua aposentadoria e foste viver, ainda relativamente jovem, com os teus entes queridos, no calor do teu lar. Tudo isso, entretanto, não durou muito, visto teres contraído um câncer há cerca de sete anos, o qual, lamentavelmente, tirou-te a vida.

Compadre CIPRIANI, até hoje só conheci três pessoas valentes e destemidas na adversidade: o meu saudoso e amado irmão HERONDINO GRACILIANO PEREIRA, o ex-vice-Presidente da República ALENCAR e TU, já que todos vocês, sabedores de que tinham uma doença incurável, jamais se lamentaram ou queixaram-se de alguma coisa, mas, muito pelo contrário, sempre procuraram dar força a quem os visitava e isso era feito, em regra, com um sorriso nos lábios, devido à bravura de que eram possuidores, para não serem vencidos, antes do tempo, pela terrível moléstia.

Meus muito queridos compadres, sobre vocês dois escreveria um livro, mas não o posso fazer, na oportunidade, quando, antes do encerramento desta crônica, quero que saibam que tudo o que trouxe à baila foi feito com as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, porque, até agora, não absorvi, nem consegui digerir o aziago passamento de cada um, que ficará em minha memória e em meu coração, enquanto vivo eu for.

Do muito amigo TROGILDO JOSÉ PEREIRA.

Trogildo José Pereira
Enviado por Trogildo José Pereira em 04/07/2013
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