Valsa da dor

Dor sem respostas é a dor das matas, com a ausência dos pássaros. Dor sem respostas é a dor dos pássaros, com a devassa de suas matas. E não há remédio que amenize este tédio das multidões. É a mesma novela com os rios, com a ausência da valsa dos peixes.

Anos e anos eu fui freqüente nos divãs dos cabarés e consegui fugir deste calabouço. Foi para mim uma enorme surpresa, pois quando fui procurar de novo estas belezas, não ouvi mais o canto das cambaxirras. Já havia decorado o linear estilo daquelas mesas e o uniforme daquelas princesas que imitava o perfume das flores.

Fui surpreendido com mendigos no pódium do mundo. No abismo escuro da solidão já reviramos os lixões do terceiro mundo. Se me esquecem no frio, congelo igual ao mármore e se me esquecem no sol me aqueço igual ao aço. Às vezes atrelado a estes extremos, tenho medo de provar meu próprio veneno.

Quando conseguir me alimentar somente pela mão amiga, espero não estar num ninho de serpentes. Ali naquela praça assisti à queima do último Judas. Naquela época a igreja usava um modelo enferrujado de perdão. Assisti à última morte por sufoco e depressão da última moça velha, honesta e virgem, pois as desonestas nunca morrem de fome. A mulher moderna, por mérito alcançou a sua independência, mas morre avistando a praia por nunca ser escolhida para o casamento.

Alcancei o êxtase ao chegar à última página com o sufoco e a ansiedade da sua virada. Um poder superior me entrega uma senha para minha vida. Queimando todo o meu patrimônio não passará de uma colher de chá de cinzas e vou bater novamente frente a frente com uma página todinha em branco.

moraesvirada
Enviado por moraesvirada em 04/04/2007
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