Doce e eterno Pai

Falar de meu pai é falar de encanto, de fortaleza, de trabalho, de carinho e paz, de proteção, pois tudo isso remete a ele, pois ele é tudo isso.

Meu pai foi um homem de poucas palavras. Nessas poucas palavras, entretanto, demonstrava um grande amor por tudo o que fez no decorrer da vida.

Até hoje acho linda a história de seu namoro com minha mãe. Neto de portugueses e nascido em família requintada, sempre foi um homem gentil e elegante... E apaixonou-se por minha mãe, mulher forte, de família humilde e batalhadora. O romance iniciou-se no interior de uma renomada tecelagem na cidade de Campinas, no Estado de São Paulo.

Meu pai precisou terminar um noivado – relacionamento estável e reconhecido pela sociedade da época – para viver seu grande amor com minha mãe. Tendo se apaixonado por ela, foi sensato, humano e por demais corajoso ao desfazer o compromisso anteriormente assumido. Com o tempo, esse sentimento só fez crescer e fortalecer-se, já perdurando por quase 58 anos. Eles se completam mesmo nas diferenças.

Quando falo de sua doçura, quero dizer que ele nasceu para ser o pai de quatro filhas, quatro mulheres fortes, assim como ele, mas que trazem traços de ambos – pai e mãe.

Isso mesmo! O senhor Wilson Teixeira soube educar as quatro grandes mulheres de sua vida...

Lutou muito e muito trabalhou por nós, para que tivéssemos uma existência digna e com conforto. Mas nunca ouvi de sua boca uma palavra sequer de queixa ou de lamento, de desalento em relação às lides da vida.

Apesar do cansaço do dia a dia, lia o jornal de cabo a rabo. Constantemente, discutia vários assuntos com muita propriedade. Falava de escritores e personalidades diversas, de política e futebol, de histórias da ditadura, AI 5, Guerra dos Farrapos, Guerra Fria, Guerra das Malvinas, invasão de terras e bolsa de valores. Além disso, auxiliava-nos nas tarefas escolares, principalmente as que envolviam cálculos matemáticos. Sua agilidade em fazer contas mentalmente fez-me compreender alguns dos mistérios da matemática e da física. Dele eu só não compreendia a grafia com traços fortes. Mas entendia suas explicações. Ele foi um excelente professor para nós e, assim como minha mãe, motivou-nos para a leitura e os estudos... Em tudo e por tudo, contribuiu para que eu me tornasse a mulher que sou hoje.

Ele nos presenteou muito ao longo da vida. Em certa época, pensando no lazer da família, comprou-nos uma chácara. Nesse local, por quase 25 anos, mostrou-nos parte do paraíso. Lá, pude observar seu caminhar firme, de passos fortes, e seu olhar doce, algumas vezes voltado para o chão. Apesar de gostar do trato da terra, sempre gostou também de mecânica, de eletricidade, de maquinaria e engrenagens. Entendia de roscas e parafusos à fortaleza de uma máquina de fazer pneus.

Embora nunca tenha tido o hábito de frequentar a igreja, acreditava em um Deus bondoso e presente, que cuidava dos filhos. E essa foi a ideia que nos transmitiu dEle. Assim, cresci confiante nos processos da vida...

O tempo todo lutou e cresceu. E alcançou objetivos e conquistou sonhos. E, um dia, tremeu... Como que de repente – assim nos pareceu – suas mãos começaram a tremer e ele passou a conviver com algo novo – um companheiro chamado Parkinson.

A doença chegou de mansinho, sem pedir licença e, pouco a pouco, foi apoderando-se de sua vida, restringindo tudo, desfazendo planos, impondo-lhe limitações que ele próprio jamais se impusera. Ele, contudo, manteve sua força interior e dignidade. E, hoje, por detrás de um homem de aparência frágil, sobrevive um rei, guerreiro e herói, a quem muito amo e admiro muito. Para sempre, minha fortaleza e porto seguro – meu querido Pai.

Simone Andreazzi
Enviado por Simone Andreazzi em 10/07/2013
Código do texto: T4380235
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