Minha mãe

Minha Mãe

Minha mãe, hoje, aos 76 anos de idade, continua a ser um exemplo de vida. Sua presença é forte. Até seu nome é forte: Tarsília Grigoletto Teixeira.

Descendente de Italianos e de índios tupis-guaranis, mamãe é uma pessoa determinada e corajosa, autêntica, ao mesmo tempo em que é carinhosa, sensível e carismática – uma junção de qualidades num encanto de mulher.

Desde pequena, lembro-me de como ela tomava as rédeas da casa e, juntamente com papai, administrava todas as situações de nosso lar, de simples a complexas. E palavras ditas por ela, de certa forma, tornavam-se lei dentro de casa. E não havia ninguém que pudesse contestá-las.

Ao todo, somos quatro filhas e temos um pouco de tudo o que ela é. Dela herdamos um jeito diferente de ver e viver a vida.

Os cuidados que direcionou para cada uma de nós sempre foram marcantes. Minha irmã mais velha teve mais restrições em sua educação, talvez por ser a primogênita. Eu sou a terceira filha e sempre compreendi a maneira de ela nos educar. Agradeço a Deus por tudo o que recebi e até pelas limitações que outrora vivi em minha vida.

Minha mãe me ensinou muita coisa. Com ela, aprendi a sempre aprender...

Aprendi a gostar de plantas. Nossa casa tinha as mais diferentes qualidades de folhagens. Ela chegava a conversar com algumas. E todas eram vistosas e bonitas!

Aprendi a amar a leitura. Meus pais sempre leram muito. Na cabeceira da cama, do lado em que mamãe dormia, havia sempre um livro para deleite e estudo. Assuntos envolvendo um pouco de medicina caseira, religiosidade, artesanato, corte e costura. Com o tempo, ela fez uma coleção de fascículos sobre o tema sexualidade, como menstruação, puberdade, namoro. Era uma forma de aprendermos o certo num diálogo familiar. Nos livros, encontrávamos parágrafos grifados e páginas destacadas. Hoje também faço isso. Lembro-me de um, especificamente, chamado “Tratado médico da família”. Em seu início, havia a figura de uma menina deitada na cama, muito doente. A família à sua volta a aconchegava, triste e sensibilizada com a situação. Esse livro tratava de doenças, sintomas e tratamento. Mencionava muitas delas, dentre as quais catapora, sarampo, gripe, coqueluche e paralisia infantil. Algumas traziam fotos e sentíamos certo medo ao virar as páginas e nos deparar com elas. Mas no final, havia outra ilustração: a mesma família, contudo retratada de outra forma. A menina estava curada e todos pareciam felizes. Assim, aprendemos a não ter receio de tomar injeção ou remédios.

Aprendi até a gostar de ir ao dentista. Em todas as férias de início do ano, mamãe marcava horário e lá íamos fazer a prevenção e cuidar das cáries que apareciam. Ela elogiava a filha que mais havia cuidado dos dentes e chegava a presenteá-la por isso. E não havia briga! Quem tinha cárie não era merecedora de mimos.

Com ela, aprendi a cozinhar... Mamãe sempre dizia: “Faça para mim e aprenda para você”. Eu achava isso o máximo, e realmente, foi um aprendizado e tanto. Comidas gostosas que muito saboreei e que ainda o faço, preparadas por ela. Sempre dedicada à arte de cozinhar, a cozinha para ela era um laboratório de degustação e experimentação – um espaço de prazer. Nunca vou me esquecer do capricho da mesa bem-posta, da distribuição dos alimentos nas travessas. Ela nunca gostou de servir em panelas na hora de pôr a mesa. Fazia questão da apresentação dos pratos, das travessas, talheres, guardanapos e copos, da toalha da mesa sempre limpa e bem-passada.

Aprendi a orar. Minha mãe sempre me apresentou um Deus amoroso. Ensinou-me o quanto a oração pode aliviar o coração num diálogo aberto e franco com o Criador.

Aprendi a gostar da chuva, a perder o medo de raios e trovões. Ela me ensinou a delícia do perfume da terra molhada.

Aprendi a maternidade. Ela me instruiu a como cuidar de um ser pequeno, recém-chegado ao mundo e, até hoje, apresenta exemplos e histórias que contribuem para a educação de minha filha.

Com minha mãe, aprendi a viver num mundo complexo... Aprendi que podemos enfrentar os problemas, por mais difíceis que pareçam ser. Tudo tem solução, quando assim desejamos.

Por tudo isso é que desejo poder ser um pouco de tudo o que minha mãe foi e é para mim. Quero também ser um modelo para minha filha.

Obrigada, Dona Tarsília!

Obrigada, Mãe!

Simone Andreazzi
Enviado por Simone Andreazzi em 10/07/2013
Reeditado em 11/07/2013
Código do texto: T4380239
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