Texto Perdido = Evolução

Acabo de digitar um texto denso,sentido,sensível e emocionado.Acabo também de perdê-lo.

A virtualidade acaba de destroçar os meus sentimentos,deletando o meu texto,antes que eu pudesse publicá-lo.

Em ocasiões como esta,penso que teria sido melhor escrevê-lo à mão,em papéis que eu teria talvez,amassado e atirado ao cesto,mas que finalmente me permitiriam escrevê-lo,ainda que torto,ainda que avesso,ainda que pobre. O texto que eu queria publicar,falava das partes de mim,que foram ficando ali e acolá no meio da travessia.Dizia da minha consistência humana,apesar de parcelada.Falava de um tempo que já foi,de um agora que é e de um futuro que pode vir a ser.

Retorno a ele somente agora, depois de alguns meses e após o amainar da minha ira.Senti-me muito frustrada com aquele corte no desaguar das minhas lembranças mais fundas e abandonei este barco.

Estou voltando apenas pra dizer que,apesar da evolução,sou uma saudosista.

Eu sinto saudade dos meus cadernos de capa dura ,onde escrevi os meus primeiros poemetos de fim de infância.Aqueles,em cujas páginas eu guardei a mais tenra inocência dos meus adolescentes versos.

Lembro-me com desvelado afeto das montanhas de livros,que eu retirava lá na biblioteca,pra fazer uma pequena pesquisa escolar.

As coisas pareciam ser mais emocionais,importantes e sentidas.

Os presentes eram comprados,depois de muita caminhada. Ao vivo tocados e devidamente cheirados.Nada de encomendas em sites.Ali,a gente compra sem nunca ter provado aquilo que somente pode ver em fotografia.

As leituras eram integrais.Nada de fragmentos do Google.

O namoro era corpo a corpo.A gente beijava na boca e cheirava a pele dos nossos amores não-virtuais.Ninguém conversava,dançava,nem cantava sentado em frente à tela de um computador.

Não vivo de lembranças,mas a cada vez que me deparo com situações como a ocorrida aqui,tenho saudade da minha máquina de escrever,do meu mimeógrafo,dos meus papéis de carta decorados e que tinham um cheirinho formidável.E a tinta das canetas,então:que perfume!

Tenho saudade até de ser obrigada a perguntar o endereço das pessoas,porque não há outro modo de encontrá-las.Hoje eu posso fazer isso ,entrando no Lista On line.Ali ,eu descubro até o celular do Papa.Que miséria!

No entanto,quando eu desejo escrever e publicar no mesmo dia um reles textinho pobre e mal acabado,não consigo.Porque as teclas do meu teclado,os meus dedos agitados,minha Internet não o permitem.

Ironia das ironias:evoluímos!

Zully Oney Teijeiro Pontet
Enviado por Zully Oney Teijeiro Pontet em 05/04/2007
Reeditado em 05/04/2007
Código do texto: T438199