281220091377.jpg



Férias Perfeitas...
 
Quinze dias na praia! Magno mal podia crer. Estava em Conchinhas, um ponto perdido no litoral, ideal para quem quisesse fugir do mundo. O rapaz dava aulas de Matemática em escolas públicas. Assim mesmo, no plural, porque para arrimo de família, a jornada é duplicada, triplicada, milhonizada... E por aí vai... Salas superlotadas,  40 alunos, em média. E adolescentes! Que tarefa! O professor merecia um prêmio, não? O de estar na solidão em Conchinhas, por exemplo...
 
Esquecer tudo que é número! Primeira meta do professor! Principalmente se esses números fossem de 1 a 12 e estivessem dentro de um relógio. Se safar das conversas chatas do ambiente de trabalho. Ô lugar de gente faladeira! Na maioria, das vezes, pra reclamar do governo... (se bem que na hora da greve, adeus conversa, todo mundo mudinho!)
 
Vestido para a caminhada matinal, Magno seguia a rota que mais amava: a das areias brancas e frias de Conchinhas. Ah, liberdade! Pássaros em revoada, relâmpagos prateados de peixes emergindo das ondas, ao sol da manhã, silhueta de navios recortadas  contra o horizonte... Que vida, hein, professor?
 
Solidão! Era o que mais o atraía em Conchinhas. A praia quase selvagem afugentava os mais agitados. Estes iam para Porto Seguro curtir ginásticas musicais do tipo “ado, aado, cada um no seu quadrado”, coisa a que ele, rapaz de alma mais poética, não era muito adepto. Sumissem todos lá pra Porto e lhe deixassem Conchinhas...
 
Outra silhueta! Desta vez de vida humana! A raridade vinha pela areia, em direção contrária. Divagou intimamente sobre o ponto escuro ao longe: um solitário como eu. Aquele (ou aquela) também não gosta de Porto. Bem podia ser a mulher da sua vida... Em alguns romances  é assim que acontece: o grande encontro das almas nas areias de uma praia deserta. Seria bom! Estava mesmo em idade de casar...
 
O ponto escuro se movendo ao longe, não dava pistas: homem? Mulher? Tivesse um binóculo, o rapaz traria  até si, as feições daquele seu cúmplice das areias. De qualquer forma iam se cruzar. Torcia por uma  bela sereia... Férias perfeitas, hein?! Sem saber por que, a cabeça deu um giro. Luan e Vanessa: pôs-se a assoviar a canção da dupla: “Foi um sonho de verão/ Numa praia...”
 
Aos poucos, o vulto das areias ia tomando forma! Formas concretas, numa roupa de caminhada, óculos escuros, boné quadriculado... E  tinha voz:
— Guinho! Fessô Magno! Num cridiiiiito!
Quis fugir, cair na areia fingindo que uma bala perdida vinda de algum navio pirata o tinha encontrado... Em pleno peito! Mas qualquer coisa seria em vão: acabava de ser irremediavelmente reconhecido pelo colega de trabalho, Zé Geraldo, o professor de Português mais chato que esse Planeta já viu. Deu pra ti, alto astral?