A HUMANIZAÇÃO DA CIÊNCIA

"A ciência sem rosto paralisa a inteligência, descaracteriza o ser, o aproxima do nada" (Sartre).

O conhecimento é um instrumento importante no sentido de facilitar a vida das pessoas. Embora, o esforço da mente humana devesse estar a serviço da humanidade, muitas vezes, se presta para a exacerbação de vaidades. Daí, o propósito maior da ciência acaba sendo desvirtuado. O intuito desse escrito é mostrar um fato ocorrido em um dos ambulatórios médicos de nosso país que demonstra claramente essa problemática.

Trata-se de uma criança que é levada a um posto de pediatria para ser examinada pelo médico. O referido paciente apresentava-se abatido, abaixo do peso e a queixava-se de dor nas articulações. O exame de sangue mostrava-se bastante alterado. O clínico notou através do exame físico que os gânglios linfáticos das axilas e cervicais eram palpáveis e o menino apresentava febre baixa. A garganta não mostrava sinais de inflamação, mas gengivas estavam inchadas e os dentes amolecidos. Foi realizado uma biopsia e o material enviado para o laboratório. A suspeita do médico era de um tumor maligno raro, muito agressivo.

O clínico comentou a hipótese diagnóstica com outros colegas, que rechaçaram de imediato a possibilidade de uma malignidade daquela natureza. Após alguns dias, quando chegou o resultado. O médico responsável pelo caso, ao ler o laudo, não pode conter a alegria, abrindo um largo sorriso. Afinal, com toda sua sapiência tinha acertado o difícil diagnóstico, era mesmo a morbidade que ele suspeitava, a despeito das opiniões contrárias. Na recepção, os pais ansiosos esperavam serem chamados pelo médico, para saberem qual era a doença de seu filho. Não sabiam ainda, que naquele papel estava escrito a sentença de morte de sua adorada criança...!

O exercício da medicina exige mais dedicação do que outras profissões, pois lida diretamente com a vida. Para tanto, espera-se do profissional, uma conduta respaldada no conhecimento, mas acima de tudo, mais humana. Ele deve lembrar que não está lidando com uma máquina, mas, com alguém que sofre e necessita de ajuda. O descaso pela dor e pelo sofrimento daquela família, demonstrado pelo clínico é revoltante. Se ele fosse o pai da criança e tivesse vivenciando a mesma situação. Qual seria a sua reação? Obviamente, sua frieza cairia por terra...!