RESPEITO

A etimologia diz que a palavra respeito vem de respectus, particípio passado de respicere, “olhar outra vez”, de re-, “de novo”, mais sepicere, “olhar”. A ideia é de que quem merece um segundo olhar merece respeito.

Mas não é a respeito do respeito que me julgo respeitado por quem não se dá ao respeito. Respeito a quem se faz respeitar, respeitando o que não me diz respeito, por respeito ao respeitável.

Não vale dizer “respeito é bom e eu gosto”. Gosta do quê? De respeito ou de desrespeito? Respeito não é uma imposição. (“Exijo respeito!”). Não é uma posição nem uma condição; é uma situação, ou melhor, um estado natural. Um pai carrasco não obtém respeito do filho; impõe-lhe medo. Respeito é consideração, medo é covardia. Deus não inspira respeito pelo temor, mas pelo amor.

O desrespeito acontece onde falta o respeito. A vida prática criou belas frases para ilustrar alguns exemplos: “Respeite os assentos preferenciais, dê lugar à cidadania!”. “Respeite a fila”, “Respeite o sinal de trânsito”, “Respeite o silêncio”, “Respeite o próximo”.

Mas a regra básica e universal diz o seguinte: respeito se tem a quem faz por merecê-lo a si próprio respeitando. Dar-se ao respeito já faziam os nossos avós. Outro exemplo literal e pretensamente literário por parte de quem escreve: usa das palavras escritas para o que a oralidade não alcança em bom som. Vai do coloquial ao chulo e finge dar moral ao palavrão.

Que faz alguém à espreita, ali na cola de outrem, observando-lhe os passos, as palavras, o dormir e o acordar, as ações e omissões? Só a infelicidade explica. A solidão em si mesma, o eco dos gritos abafados pelos medos. Será tão desinteressante a vida de alguém a preocupar-se tanto com a vida do outro?

Carência. Irremediável carência. Desespero; porão de recalques. Falta de afeto, falta de amor, falta de sexo. Do que não é capaz uma mulher mal (ou nunca) amada ou comida! Finge amar a vida odiando o mundo e vendo nos felizes os inimigos. Desrespeita a ordem natural e faz tipo subvertendo-a. Desocupação é uma tortura para quem não sabe lidar com a necessária e oportuna solidão. Dói-lhe na alma o que no outro o inquieta. A ele ironiza, desfaz, calunia, cobre-lhe de injúria e difamação. Agride-lhe a fé, menospreza-lhe a espiritualidade. Escreve, poetiza barbarismos, ganha a simpatia dos tolos, torna-se ídolo dos ignorantes, atrai bajuladores. Do que não é capaz a mente satânica, a alma vil! Que o digam a carência e o desrespeito, a falta de homem. De um homem que a satisfaça e a transforme em gente, num ser humano respeitoso e respeitado.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 17/07/2013
Reeditado em 24/07/2013
Código do texto: T4392148
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