No meu tempo era assim...

Minha infância foi muito bonita! Lembra-me cada momento vivido e todos eles me trazem lindas recordações...

Brinquei muito com a boneca Susi. Mamãe confeccionava as roupinhas e minha boneca estava sempre impecável, pronta para todos os momentos do dia. Quando eu acordava, ela também acordava. Na hora do meu almoço, Susi também almoçava. Nas horas em que eu estava na escola, Susi ficava no guarda-roupa, em sua sala de aula improvisada. Tínhamos a mesma vida, o mesmo ritmo.

Brincar de escolinha era algo que acontecia quase diariamente. No quintal, eu colocava latas de tinta vazias voltadas para baixo, como sendo as carteiras dos alunos. E os ursinhos e demais bonecas eram meus alunos. Minha sala de aula ela linda, com carteiras enfileiradas e todos os alunos prontos para aprender. Eu corrigia os cadernos e passava muita lição na lousa. Papai havia colocado a lousinha na parede, presa por um prego. Eu tinha gizes coloridos e o apagador era um pedacinho de tecido. Dias mais tarde, eu o troquei por um apagador de verdade, que ganhei de mamãe. Foi um presente maravilhoso!

Minha melhor amiga se chamava Sônia. Era a companheira de brincar de casinha, boneca e escolinha. Era também a amiga que viajava conosco para a praia e que dormia em casa, quando mamãe permitia. Lembro-me de que ela ajudava a mãe a cuidar da casa, e isso me motivava a fazer o mesmo. Na época, fizemos até um cronograma de tarefas domésticas. E o cumpríamos fielmente. Tínhamos uma amizade linda, que parecia não poder jamais ser quebrada e que nos tornava cúmplices em tudo.

Embora nunca tenha sabido o porquê, sempre estudei no período da tarde. Quando chegava a casa, após a aula, trocava de roupa, tomava um lanche e corria para o quintal. Lá, subia numa lata, olhava por cima do muro e chamava Sônia, que morava ao lado. E brincávamos até escurecer, menos em dia de chuva. Nos dias de chuva, mamãe não me deixava sair para brincar.

Na frente de casa, havia um campinho de terra, onde brincávamos muito também. Fazíamos bolos de barro, jogávamos areia para o alto e ríamos muito. Não havia nenhum problema, exceto o cair da tarde. Quando o sol se escondia, era hora de entrar para casa. E não era preciso mamãe chamar. Tínhamos esse combinado e, se o quebrássemos, o castigo viria na certa.

Lembro-me de que, por essa ocasião, o asfalto estava chegando ao bairro e os postes de madeira, sendo trocados pelos de concreto. Por esses fatos, sentíamos que o progresso estava chegando ao local. O bairro ganhou ainda um Batalhão do Corpo de Bombeiros, que se instalou pertinho de casa. Com isso, mamãe passou a nos deixou brincar na rua, nas noites de calor. Era uma delícia! Nessa mesma época, comecei a fazer aulas de violão e, juntamente com outros amigos, sentávamos sob a luz do poste de e cantávamos muitas canções. Os bombeiros velavam por nossa segurança, enquanto, além disso, brincávamos de esconde-esconde, mamãe-da-rua, passa-anel e contávamos causos de assombração, histórias de escola e piadas inocentes.

Mas, então, algo aconteceu... Uma mudança começou a ocorrer em mim... Aos poucos, as bonecas foram sendo deixadas de lado. Eu não mais trocava a roupa de minha Susi com tanta frequência e a lousinha pendurada na parede foi se tornando envergada pelo efeito da chuva e do sol. As latas que um dia foram carteiras de meus aluninhos já não mais estavam no quintal. Eu estava crescendo. E, quando me dei conta, quando de fato percebi, minha infância tinha ido embora sem se despedir! Hoje, trago comigo todas essas lembranças, lembranças de uma infância doce, repleta de sorrisos e alegria.

Não tenho mais contato com Sônia, que trilhou outros caminhos na vida. Já o poste permanece no mesmo lugar, no bairro onde mamãe ainda reside. O campinho de futebol transformou-se em área militar, e a rua nunca mais teve crianças cantando nas noites de luar.

Dos brinquedos que tive, guardo apenas três bonecas Susi, uma ainda vestida de noiva, embora com o tecido amarelecido pelo tempo. Guardadas em minha casa, numa caixa bem bonita e na lembrança, elas trazem recordações de um tempo mágico e uma lição de vida – a lição de gratidão por ter sido uma criança tão feliz!

Simone Andreazzi
Enviado por Simone Andreazzi em 19/07/2013
Reeditado em 19/07/2013
Código do texto: T4394137
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