EM CASA

Uma semana após o início oficial do inverno decidi viajar, rever meu querido Estado natal; Mato Grosso do Sul. Optei por ir de ônibus assim poderia curtir a paisagem, o cerrado. Embarquei e logo estávamos na rodovia SP-300. Passamos pelos trevos de algumas cidades como Penápolis, Avanhandava,Valparaíso entre tantas outras. Nossa primeira parada foi em Araçatuba. Toda vez que passo por esta cidade costumo pensar "esta cidade não dorme", é sempre muito movimentada; automóveis, motocicletas, pessoas, todos em um constante vai e vem frenético.Pela janela do ônibus vejo pessoas sorrindo, conversando, abraçando-se, parecem estar felizes.Continuamos a viagem na SP-300 (Rod. Marechal Rondon) nossa próxima parada será na minha querida Andradina a Terra do Rei do Gado; para aquele que não conhece sugiro que ouça a música de viola Rei do Gado gravada por vários cantores entre eles Almir Sater e Sérgio Reis.Este trecho de mais ou menos 120 Km me traz a mente uma outra viagem que fiz em 1998, onde eu acompanhava um carro funerário, no translado de minha mãe em um caixão ornado de crisântemos brancos com seu cheiro característico de morte. Não gosto de flores usadas em arranjos funerários. Refaço toda aquela viagem mentalmente e quando me dou conta já estamos adentrando a minha querida cidade de Andradina. A cidade tem esse nome em homenagem ao seu fundador o rei do gado Antonio Joaquim de Moura Andrade , sua fundação foi em 11/07/1937. Sinto-me em casa, tudo que vejo, cada lugar me desperta sensações indecifráveis ou melhor um misto de todas as sensações possíveis à uma pessoa sentir.

Alegria, tristeza, um quê de saudades, muitas saudades de tudo que se foi, de tudo que vivi naquelas ruas, naquelas praças. A cidade dorme o sono das cidades interioranas. A rodoviária quase vazia, apenas algumas pessoas a embarcar.Poucos sons, poucas luzes e estas quase se apagando a calmaria é semelhante aquela que procede depois de uma tempestade , lá é sempre assim. Devorei tudo o que meus olhos alcançou; senti o cheiro de antigos amigos, senti o gosto dos beijos de uns amores idos, senti a vida pulsar em minhas veias, meu rosto se tornou rubro e quente, febril de emoções, duas grossas lágrimas escorrem de meus olhos e desaparecem em meu sorriso triste.

Continuamos ainda na SP-300, viajamos mais 50 Km e atravessamos a fronteira dos Estados de SP/MS. Este trecho da estrada me é muito peculiar, velho conhecido; eu o percorria todos os dias, de 2003 a 2006, durante a minha graduação eu cruzava a fronteira para estudar na UFMS Campus de Três Lagoas- MS. Naqueles dias, naquelas semanas, naqueles meses e anos eu contemplei cada por-do-sol lá na ponte de Jupiá (Usina:Eng. Souza Dias) e também os ipês floridos no cerrado. A cor viva dos ipês amarelos (árvore símbolo do Brasil) coloriam o cerrado muitas vezes castigado pela seca e ou pelos ventos vindos do sul.Também vivi mil amores imaginários, beijei mil bocas sem nomes, sem faces, contemplando a lua em cada uma de suas fases. Enfim cruzamos a fronteira e agora a viagem segue pela rodovia BR-262; uma pista simples, mal conservada , sem acostamento e com muitas curvas perigosas mas eu não penso nelas. Fecho os olhos, meu olfato me traz cheiro de mato, de cerrado, de vida silvestre muito diferente daquele cheiro que respiro em Lins ( cidade que atualmente resido). Passamos por Água Clara onde comecei a lecionar em 2007, na EE "Chico Mendes", tempos difíceis aqueles, lecionava manhã e tarde, à noite ensinava a um público diferenciado, os adultos que voltavam à escola por iniciativa própria em alguns casos, mas, na maioria das vezes pela necessidade de uma capacitação afim de ingressar em um emprego melhor, que não o das carvoarias. Água Clara fica para trás , passamos por uma cidadezinha, uma verdadeira corrutela, que igual à Água Clara também é cortada pela BR-262, ambas as cidades são divididas verticalmente pela rodovia. Cochilo um sono leve, meio acordada, meio dormindo, muitas imagens passam pela minha mente, se sonho ou lembranças não consigo definir, só sei que amo tudo isso. Chegamos em Campo Grande, uma manhã de céu claro, sol brilhante, ESTOU EM CASA.

Tina Rosa
Enviado por Tina Rosa em 19/07/2013
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