A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR

A cada ano, eu choro ou me escandalizo quando leio ou assisto a noticiários que me informam sobre pedofilia, sobre mães que abandonaram seus filhos recém-nascidos; sobre os filhos desnaturados ou drogados que matam seus pais; sobre avós, pais, tios e irmãos que estupram suas netas, filhas, sobrinhas e irmãs; sobre os ladrões idiotas que, além de roubarem, assassinam suas vítimas; sobre os homens ou mulheres imbecis que matam covardemente seus parceiros... Contudo, apesar dessas coisas tristes, eu sou otimista e creio que a humanidade está melhorando.

Para defender meu ponto de vista, não irei à “sopa primordial”, de que falou Charles Darwin, pois se ela de fato existiu, acredito que os organismos que nela habitavam não possuíam sentimentos e nem capacidade de raciocinar. Pelo mesmo motivo, também não creio que valha a pena investigar sobre as “malvadezas” dos Sahelanthropus tchadensis, os primeiros macacos com características bípedes, e nem sobre as dos seus sucessores mais “recentes” como o Homo Ergaster, Homo Erectus, Homo Neanderthalensis ou o Homo Sapiens Sapiens.

Embora eu saiba que Hitler foi um filho de uma égua, matando seis milhões de judeus de formas diabólicas, durante a II Guerra Mundial; em meu entender, o período em que o ser humano exacerbou sua perversidade “com gosto de gás” foi durante a Idade Média, que durou do século V até o século XV. Entre os fatos ocorridos nesse período que ficou, historicamente, conhecido como “Idade das Trevas”, considero importante citar os instrumentos de tortura utilizados pelos inquisidores, que buscavam descobrir quem eram e queimar em fogueiras as pessoas consideradas bruxas.

Não pretendo que meu leitor se horrorize, por isso não descreverei como e qual era o funcionamento de cada instrumento de tortura a seguir listado, mas sua imaginação permitirá inferir e seus nomes ensejarão pesquisas no Google: Roda de despedaçamento, Dama de Ferro, Berço de Judas, Garfo, Garras de gato, Pera, Máscara de ferro, Cadeira de pregos, Esmaga cabeça, Quebrador de joelhos, Mesa de evisceração, Pêndulo e Potro.

Não exatamente como forma de exterminar os condenados pelos Tribunais da Inquisição, mas em consonância com sua perversidade endêmica, os homens inventaram a Guilhotina, o Serrote, a Espada, o Machado e o Cepo, o Garrote, as Gaiolas Suspensas, Submersão, Empalação, Cremação e Estiramento.

Realmente, houve um tempo em que o homem não podia contar, definitivamente, com a benevolência ou com o bom exemplo da igreja. Para ilustrar esse trecho cito um espanhol, ordinaríssimo, chamado Rodrigo de Bórgia, que em 11 de agosto de 1492 (mesmo ano em que a América foi descoberta) assumiu o trono de São Pedro, escolhendo ser chamado de Alexandre VI. Naquela época os papas podiam se casar e ter filhos, mas isso não seria problema se o sujeito fosse decente,

Esse cara ficou famoso por colecionar amantes e nomear parentes para cargos tendo como único objetivo concentrar poder nas mãos de sua família. Humildade e pobreza, definitivamente não eram suas marcas, haja vista que para comemorar o anúncio do 3º casamento de sua filha Lucrécia Bórgia (uma saliente que adorava fazer “bobiças” com seu próprio irmão,César Bórgia, um cara sanguinário, que, aliás, foi o inspirador de Nicolau Maquiavel ao escrever O Príncipe), ele exigiu que os canhões troassem e os edifícios de Roma fossem embandeirados e iluminados.

Seu filho César era tão peste que, certa vez, se fingiu de bonzinho, convidou seus desafetos para uma festa em seu palácio. Sorrateiramente, ele aprisionou-os e assassinou-os um a um. Em outra, ele deu uma punhalada no peito de um assistente na presença do pai dele, o papa Alexandre VI. Ao ser repreendido pelo seu genitor (que nada valia também), saiu-se com uma fala parecida com essa: “Não enche meu saco, senão eu mato você também!”

Quase seis séculos depois de esse povo infeliz ter entrado pessimamente para a história, graças a Deus, em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina, nasceu em uma família de imigrantes italianos, Jorge Mário Bergoglio, a criança que iria revolucionar positivamente o mundo cristão. Dizem que durante a sua adolescência ele teve uma namorada de nome Amália. Ele a teria pedido em casamento, mas diante da recusa da moça, teria decidido se tornar padre. Cumprindo o prometido, ingressou na Companhia de Jesus em 1958 e foi ordenado em 13 de dezembro de 1969.

No dia 13 de março de 2013, durante o conclave para substituir o Papa Bento XVI, Jorge Mário foi eleito Papa e escolheu para si o nome de Francisco, em homenagem ao Santo homônimo e à vocação de ambos em favor dos pobres. Desde então, pela sua simpatia e humildade, ele ganhou os corações de todos nós e creio que até mesmo daqueles que pensam que Cristo pertence a apenas uma denominação religiosa.

Creio que sua presença em nossa nação, desde 22 de julho de 2013, para compartilhar da Jornada Mundial da Juventude, mudará para muito melhor a humanidade e eu torço com todas as forças para que isso aconteça. Quando assisto às manifestações acolhedoras da multidão que dele se aproxima ou para ele acena, eu me emociono e me lembro de Cristo. Presumo que com Ele deva ter acontecido coisas parecidas e as reações de ambos também devem ter sido assim.

A realidade que ora vivemos, mesmo sendo muito melhor que na Idade Média, ainda me entristece, pois sei que o ser humano tem memória curta e uma dificuldade imensa para colocar em prática aquilo que exige mudar a sua essência, a sua alma e a sua cultura. Por isso, faço a pergunta que não quer calar:

_Como as pessoas colocarão em prática as palavras do Papa Francisco quando ele diz: “Não pode haver verdadeira paz se cada um é a medida de si mesmo, se cada um pode reivindicar sempre e só os seus próprios direitos, sem se importar ao mesmo tempo com o bem dos outros, o bem de todos, a começar pela natureza comum a todos os seres humanos nesta terra”. , se a maioria, até hoje, não consegue viver o último ordenamento de Jesus: “Amai-vos uns aos outros ... como eu vos amei”?

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 24/07/2013
Reeditado em 27/07/2013
Código do texto: T4402816
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