Roubamos o trabalho do diabo


Veja bem, meu amigo.

O diabo se fortalece nos detalhes.
Todos os dias.
Então, imagino que nos dias de hoje o tal figura de chifre e rabo simbólicos deva estar mais marombado que aspirante a Mr. Universo.
Pense um pouco.
Estamos tão empenhados em descobrir os enigmas do universo e as hipóteses da vida após a morte que esquecemos de observar o tinhoso agindo a todo momento.
Eis uma bela tática deste estrategista de plantão.
E não se trata de pôr culpa no pobre coitado, não. Porque aí, seria muito fácil.
O tal diabo a quem me refiro não chafurda em um leito de lava derretida nas profundezas do inferno.
Sem desconsiderar a existência desta criatura bíblica, o diabo aqui citado não é o causador de tanta peripécia ruim no mundo.
A causa maior (e longe de mim filosofar) são as insaciáveis paixões humanas.
Há mais vaidade movendo a terra que qualquer outro sentimento bom.
E no meio desta vaidade acho que dá para encaixar quase tudo: mentira, inveja, cobiça, luxúria, arrogância, enfim, um lauto banquete dos pecados capitais.
Duvida?
Olhe à sua volta. Faça uma reflexão.
Você, assim como eu, tem o dom exato e corrompido de estragar até o que beira a perfeição.
Ou não? Pois bem...
Consegue imaginar guerra sem ego ferido?
Briga por herança sem brios exaltados?
Casamento desfeito sem orgulho?
Mal-humor sem uma pitada de algum desejo insatisfeito?
Pois é.
Nem há muito argumento.
O fato é que metemos o pé na jaca com gosto a cada vez que um bicho destes aí nos sorri sedutoramente.
E assim a vida prossegue, um rosário de desculpas em uma luta constante entre o desejo, a espiritualidade e razão.
O diabo? Ah, ele vai muito bem, obrigado.
Quase não tem trabalho.
Perto de nós, trabalhadores incansáveis nesta vida de chutar o balde por besteira, ele ganha ares cômicos de um mero amador.
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 30/07/2013
Reeditado em 30/07/2013
Código do texto: T4411581
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