O HOMEM COMUM

Quero exaltar o homem simples, de rugas no rosto e nas mãos. O homem que não deixa faltar o pão para suas crias. Eis o meu herói: sem medalha a reluzir seu peito, sem herança que lhe recomende um caminho, sem reportagem que louve seus méritos. Mesmo sem glórias, ele se levanta todo dia antes do sol se levitar no azul e, exerce, com fervor e pressa, seu ofício. Eis o meu herói: o homem pequeno que se confunde com multidão.

É o lavrador que extrai da terra, sem júbilo, os grãos que abençoam nossas panelas. É o oleiro, que do chão molhado e do fogo aprisionado, dá o sopro de vida ao tijolo que sustenta nossas casas e nos protege contra o sol e contra a chuva. É o padeiro que confronta a madrugada e seus demônios para que o pão seja possível.

Quero exaltar o homem comum, de magro salário, de calça surrada, de poucos sapatos. A ele beijo na face e o proclamo herói da nossa raça. O homem que não domina nenhum idioma, que não maneja nenhuma filosofia, que não declama nenhum poeta.

O homem que come arroz, feijão, tomate e ovo, com a felicidade e a grandeza de um imperador em um banquete real. Louvo-lhe a mão, que faz da enxada sua mais nobre espada. Louvo-lhe os pés, danificados pela ação do tempo. Louvo-lhe os olhos, de vista cansada, que não foi testemunha do milagre da bonança. Louvo-lhe a fé, que move seu corpo velho de homem na direção do pouco vento.

Quero exaltar esse homem, colher em seus olhos o milagre que nenhuma ciência ou religião possa contestar, sequer compreender. Quero exaltar o homem anônimo, o homem sem sobrenome, sem árvore genealógica. O homem de pouca dança, de rouca fala, mendigo de ambições.

O homem que não pisa em palácios nem frequenta saraus. O homem que jurou nunca entrar em um avião. O homem de pouca massa, de pele torrada, de peito arqueado e falido. Exalto o homem que não hasteia bandeira, que não toma café com o prefeito, que treme ao apertar a mão do deputado.

Quero congratular-me com o homem que fica de chapéu na mão quando passa uma procissão de reza ou de funeral. O homem que não deixará legado nem conto de réis na poupança, o homem que não verá um filho doutor. Eis o herói que nunca será anunciado. O correto varão que minha alma, inundada de gratidão, abraça demoradamente.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 31/07/2013
Reeditado em 30/12/2013
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