O PARAÍSO!

Pedras de várias facetas medravam-se no areal de calor inclemente, misturadas com as co-irmãs roliças e de tamanhos variáveis, pequeninos grãos de fina areia mesclavam-se entre elas a disputar lugares para escorrerem nas reentrâncias irregulares. Pouquíssimos brotos gramíneos de hastes semi-ressecadas e folhas macérrimas tentavam a sobrevivência naquela aridez, viviam, tão somente, pela mísera umidade em suas parcas raízes filamentosas.

Carcassas de insetos misturavam-se aos pedregulhos e às plantinhas disformes e calcinadas pelo sol inclemente. Uma brisa quente contornava a todos tais e qual um cobertor térmico colocado a pedido de uma pessoa febril, o que lhes aumentam a temperatura sem jamais amenizá-la.

O horizonte parecia uma redoma inalcansável em razão das imagens fugidias em seus perímetros mesclados de garatujantes miragens, qual vapores indevassáveis ao derredor de uma grande panela fervente.

De quando em vez, um sibilar roufenho anunciava a chegada de um redemoinho de terra fina com areia a expandir circularmente em todas às direções que houvesse espaço para a sua invasão, expurgado por um vento mais agressivo que medrava na matéria ressecada em movimentos de rotação centrífuga com direção aleatória apenas controlada pelo chicote do vento que o conduzia.

Em tempos antanho, todo aquele cenário desértico e de pouca condição de vida (como a conhecemos) já fora um vergel notável e notório com água aos borbotões, pássaros, animais silvestres, insetos e até feras. A vida era uma constante fartura assimilativa dos elementos circundantes, o tempo era parceiro cooperativo com os elementos vegetais, animais e minerais, não havia predadores e o alimento de todos era vegetariano.

Com o passar do tempo, na eterna sucessão dos momentos transcorridos, o Criador de tudo aquilo notou que precisava desviar sua atenção daquele pequeno mundo para cuidar do universo infindo, partindo, então, daquele rincão.

Com seu afastamento, as intempéries, a falta de distribuição dos pólens, diminuição das vegetações sem replantio, chuvas esparsas, desvio de águas e secas, acabaram por transformar tudo numa grande área de um deserto quase sem vida.

Retornando, o Criador quedou-se a observar o cenário antagônico ao deixado. Não precisava pesquisar soluções por ser o Tudo em Todos! Num relance, decidiu que acabaria com aquela desolação e deixaria um ser humano para tomar conta em seus eventuais afastamentos pelas galáxias e, este Ser, seria à sua imagem, contudo, com as deficiências do planeta, dessa forma, reuniu num redemoinho tudo ao derredor e lhe deu a forma de um homem ao qual chamou de Adão.

Adão foi criado com a miscelânea dos seguintes elementos:

Pedras de várias facetas, pequeninos grãos de areia, brotos gramíneos de hastes e folhas ressecadas com raízes macérrimas, carcaças de animais e insetos e brisa quente, horizontes de imagens fugidias e garatujantes miragens com vapores quentes, redemoinho de terra e areia com direções variáveis ao sabor do vento.

Após a delivrance do primeiro ser humano, o Criador transformou a circunvizinhança em um vergel rico em flora e fauna silvestre, deixando tudo sob o comando daquele Ser ainda imaturo, para alimentar-se havia inúmeras frutas e verdejantes folhagens apropriadas, deu-lhe o comando de tudo e apenas lhe proibiu o usufruto de uma das árvores à qual chamou da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal”. O tempo não contava e a morte não existia tudo era felicidade e fartura plena, o que passou a entediar Adão que pedia ao Senhor uma companheira, a exemplo dos animais daquele paraíso que contavam com inúmeras companheiras.

Sendo justo, o Senhor atendeu ao pedido e, da costela de Adão, fez Eva como sua companheira. O resto do evento é por demais conhecido, culminando com a traição de Eva aceita por Adão, assassínio de Cain, dilúvio, Sodoma e Gomorra, Êxodo, crucificação de Cristo, destruição de Jerusalém, Átila, Hitler, e outras hecatombes absurdas transformando o homem em seu pior predador, logo o homem que fora feito a imagem do seu Criador!

Se, ao fazer o universo, Deus achou-o bom, agora deve estar na espreita à espera do momento em que deverá justiçá-lo com a destruição, quiçá pelo fogo imemorial e saneador. Só não o fez ainda porque, de quando em vez, aparece no meio do povo um espírito puro portador da imagem e também de uma faceta do Altíssimo, tais como: Ghandi, Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, meu Pai e tantos outros que, pesados na balança, carregam com eles a culpa de milhares dos seus irmãos, retardando, dessa forma, a justiça final.

O homem tem tentado escalar a imensidão estrelar das galáxias sem, antes, resolver os seus problemas mais simples, como o desemprego, distribuição de rendas, sociabilidade irmanada, respeito mútuo, segurança e muitos outros. Ocupa só a terça parte de um planeta e pouco sabe das duas partes restantes imersas nos oceanos, ou seja, não saiu ainda da cozinha e já quer fazer vênias e recepção na sala!

Pior! Não conhece a si mesmo e já quer conhecer a galáxia e os extraterrestres!

Quando Adão foi criado, Deus não quis fazê-lo uma obra-prima, apenas queria humanizar uma parte do universo com a presença marcante do ente criado para dominar a fauna e a flora mesmo, porque, tempos antes, fora afrontado por uma revolta de Anjos que Ele projetou no abismo, assim, uma nova raça humana teria ali início e seria imortal e feliz desde que obedecesse a determinação de não tocar na árvore da vida.

Não tendo a intenção de aperfeiçoar o homem, deixou este encargo ao próprio Ser criado dos restolhos amealhados da terra infértil.

Não foi obedecido! E, a isso, juntou-se a tentação de um dos decaídos em forma de serpente. O castigo foi terrível! De imediato, todos perderam a imortalidade e teriam que tirar o sustento do próprio suor além de castigar as mulheres com sofridas délivrance, ás vezes mortais.

A humanidade que procedeu de Adão, em sua maioria esmagadora, carrega o estigma do mal. As suas entranhas e neurônios estão ressecados tal e qual a deficiência das matérias amealhadas na fabricação de Adão corre em suas veias as areias argilosas, pedras, ramos secos, torvelinho de brisa quente, folhas ressecadas, carcaças de insetos e outros materiais desérticos, seria isto uma falha do Criador?

Nunca!... A falha fora o resultado da desobediência consciente do primeiro casal e de um dos rebentos dele (Caim).

Quando Adão recebeu a vida, também recebeu num sopro um espírito imortal e livre do mal em quaisquer de suas manifestações. Só, que, tal benesse, deveria ficar homiziada nele e completamente algemada à obediência e alheia das atitudes do portador que passou a ser seu hospedeiro sem saber a quem estava dando guarida. E, só saberia no instante exato em que viesse a desobedecer, ocasião em que seu espírito tomaria as rédeas na direção do corpo, porém, ficou descompassado com a vontade divina pela inflação cometida logo seguida do assassinato de seu filho efetuado pelo irmão mais velho, recebendo, dessa forma, O ESTIGMA DA MORTALIDADE E O BANIMENTO CONSEQÜENTE DO PARAÍSO.

(aa.)S.A.Baracho.

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Sebastião Antônio Baracho Baracho
Enviado por Sebastião Antônio Baracho Baracho em 08/04/2007
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