Escudo para quem precisa

Bugigangas são objetos que vamos colecionando durante a vida, sempre pensando que um dia serão úteis. Tenho caixas e caixas delas. Outro dia tentei desfazer-me de algumas e acabou sendo um reencontro com o passado que durou a tarde toda e no final uma sacola de descarte.

Cada peça que eu pegava cumpria um ritual de rememorar de onde ela viera e a história do nosso encontro. Para todas sempre pretendi um destino que na maioria das vezes deixei adormecer num canto das caixas. Hoje terminei de limpar uma delas que é uma peça de metal recolhida no acostamento da estrada do Lamí.

Minha pretensão era de carregá-la no bolso, não como amuleto, mas como um carteiraço de resposta. A analise dele tomou-me um tempo maior, silenciosamente tentei travar um diálogo, que pudesse me mostrar quais os caminhos que ela tinha percorrido, sofrimentos de seu dono, em que circunstância ele havia sido deixada naquele lugar, tentativa inútil, pois objetos não se comunicam e no máximos podem ser usados como mensagens. Deixei-a de molho por vários dias numa solução antiferrugem. Afinal passaram-se 10 anos de nosso encontro e é justo dar-lhe um tratamento mais digno.

Pelo aspecto geral ela foi forjada tipicamente por marretadas de mãos não muito hábeis, pessoalmente assisti verdadeiras obras de arte moldadas pelas mãos de soldados-ferreiros.

Ferraduras são tidas como objetos da sorte, mas não para mim, pois tenho-as como escudos que podem nos proteger e esta era a minha intenção, tê-la sempre ao alcance das mãos para mostrá-la sempre que necessário, como fazem os caçadores de vampiros ao mostrarem um crucifixo.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 03/08/2013
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