DA ÁGUA PARA O VINHO

Rosilda sempre foi alegre e comunicativa. Desde pequena que o seu forte era passear, conversar e fazer novas amizades.

Seu pai, fazendeiro de respeito na região, nunca agradou do jeito extrovertido e sem responsabilidade da filha. O sonho dele era que ela fosse caseira, comportada e trabalhadeira, igual às outras irmãs.

-Vou acabar com as andanças de Rosilda ou não me chamo Jerônimo!- dizia o velho, quando a via saindo de casa para bater pernas.

De vez em quando, ele tocava em assunto de namoro, casamento, mas a moça mudava o rumo da conversa. O negócio dela era saracotear.

Januário, vaqueiro bom, trabalhador, empregado da fazenda, encantou-se com a filha do patrão. O pai, percebendo as intenções do jovem, fez de tudo para que os dois namorassem.

-Papai, posso até namorar o Januário, mas não vou mudar o meu jeito.

Diante de tanta insistência do velho, eles acabaram se casando.

Muito apaixonado, o marido chegava da roça e fazia a sua comida. Sua roupa era ele quem lavava, enquanto a mulher passeava com as amigas.

Esta situação chegou aos ouvidos do sogro, que disse consigo mesmo:

-Essa menina muda o seu comportamento ou marca o dia de mudar. Vou amanhã mesmo conversar com o meu genro de homem para homem.

No outro dia.

-Boa noite, Januário. Cadê a minha filha?

-Boa noite, seu Jerônimo. Ela foi fazer uma visita com a Soninha.

-Visita?! À uma hora desta?! Você tem que acabar com isso, rapaz. Quando ela chegar, dê-lhe uma surra. E se ela não consertar, dê-lhe outra.

-Sinto muito, mas não vou fazer isso. Eu amo a sua filha.

-Então, quem vai apanhar é você. Vou mandar os meus jagunços lhe darem uma esfrega, que você nunca esquecerá. Escolha.

Mais tarde.

-Ai! Você está louco? Socorro! Por que está me batendo? Ai! Aaaii!

-Agora é assim! Ou você se torna uma esposa de verdade ou lhe mato!

Aos prantos, a mulher correu para a casa do pai.

-Papai! Papai! Olha o que o Januário me fez! Ele é um monstro!

-Pode dar meia volta. Lugar de mulher é ao lado do marido.

No dia seguinte, Rosilda acordou cedo e foi para o tanque lavar roupa. Na hora do almoço, fez a comida e deixou sobre o fogão.

Nesse meio tempo, Soninha lhe chamou para um passeio a cavalo.

-Não posso. Tenho que arrumar a casa e passar roupa.

O marido chegou, almoçou e voltou para o campo. À noite, para sua surpresa, encontrou a esposa em casa.

Passado algum tempo, o fazendeiro, feliz com a transformação de sua filha, deixou no terreiro do genro três juntas de boi.