Se todos fossem como Jacinto

O consumo é o mal da humanidade. Vivemos numa realidade em que a globalização criou uma armadilha para o mundo, consumir se tornou a essência de todo e qualquer pensamento humano. Mais do que reféns de propagandas e marketing somos coniventes a um consumismo em demasia, ao passo que, atualmente, edifica-se uma sociedade de descartáveis preenchida por insatisfações. Nos shoppings, verdadeiros palácios do consumo, somos tentados ao máximo. Consumir é a regra. Diferente do restante, as vitrines são nossas aliadas, pois dão-nos a última chance de enxergar a verdadeira felicidade, que mais do que o simples produto por trás dela, refletem a imagem de onde se encontra o verdadeiro contentamento; em nós mesmos.

Civilização é sinônimo de consumo, esse foi o pensamento expresso por Jacinto no início do livro cidade e as serras. Construído com proeza por Eça de Queiroz, a personagem, representa a constante insatisfação social, mais do que isso, a dor daquele que tem tudo e ao mesmo tempo sente-se sem nada. Consumo em demasia não é sinônimo de felicidade sendo responsável, muitas vezes, por um prazer efêmero e ilusório. Consumir é como usar drogas inconscientemente, é estar sujeito a um vício constante exigindo forte resistência para não cair em tentação. Sendo que equilíbrio entre o consumo e a carência é a consciência, para assim, alcançar-se a verdadeira felicidade.

Isso se contrasta com a perversa lógica econômica. Hoje, o mundo cresce instigado pelo consumo, em que o comercio é a alavanca dessa chaga humana. Empregos são gerados ao passo que a aderência a produtos se eleva. Vive-se, então, uma dúvida cruel, em que se consumo inexistisse o número de empregos e nossas necessidades básicas seriam comprometidas, enquanto por outro lado, caso realizemos o inverso e o mesmo se eleve exacerbadamente nossa felicidade que é posta a prova. O equilíbrio torna-se mais uma vez, o fator de coexistência, demonstrando que o consumo consciente é a chave para conciliar estes pontos tão antagônicos.

Em sua visita ao Brasil o papa disse a seguinte frase “A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração”. Talvez, por uma visão mais ampla, o papa tenha enxergado, antes que uma maioria, que a humanidade está presa em ataduras de consumo. Freud já explicava que esse consumo impulsivo é derivado das angústias de cada um, uma fuga manifestada através de nossos desejos. E os shoppings tornam-se os facilitadores, encontrados pela sociedade para livrarem-se passageiramente de seu marasmo. O ter passou a ser mais importante que o ser. E as pequenas coisas, as pequenas atitudes, apagaram-se frente aos nossos olhos, construindo este cenário que nada mais é do que um reflexo do consumo em demasia.

Por conseguinte, fica claro que nossa sociedade precisa atingir um ponto de equilíbrio, consumir demais é problema, assim como de menos pode comprometer nossas necessidades, o consumo consciente é a solução. A felicidade se encontra dentro de cada um, nas pequenas ações e gestos, basta sabermos enxergá-la neste grande espelho da vida. Quem sabe assim, algum dia, não atinjamos a plena felicidade, aquela que através do equilíbrio Jacinto conquistou.

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 07/08/2013
Reeditado em 07/08/2013
Código do texto: T4424366
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