Pé de galinha não mata pinto ! ( nem machuca !)

Impressionante como a natureza é sábia!

Se pararmos a pensar como nos agrupamos socialmente, respeitamos os limites que nos são impostos, convivemos em harmonia com as demais pessoas nos mais diversos ambientes, sem mesmo trocarmos palavras.

Já aproveitei, em outras ocasiões, em narrar crônicas viajando de lotação. Mais uma vez indo ao trabalho, deparo-me com uma situação bem típica do provérbio anunciado no título acima.

Assentado numa das poltronas do ônibus, eis que vejo uma menina, de aproximadamente doze anos, no banco da frente, vez por outra, olhando para trás como quem buscasse algo com seu olhar.

De repente, não mais que de repente, um irmãozinho catatau veio, enquanto o ônibus fazia uma parada para que descessem passageiros, e assentou-se ao lado da irmã, no banco à minha frente. Logo em seguida, outro menino, de estatura intermediária aos dois, veio correndo e juntou-se em um só banco com os demais irmãos. Ali permaneceram mudos.

O menor de todos, como quem se aninhava por entre os irmãos, foi para a beirada da poltrona. O intermediário pôs-se no meio dos dois e imediatamente colocou seu bracinho sobre o peito do catatau, protegendo-o. A irmã mais velha, no canto, por sua vez, fez o mesmo com o do meio, amparando-o. Nem uma palavra se ouvira vindo deles. Era o retrato da simplicidade digno de uma moldura, pela beleza da comunicação entre eles feita somente com seus olhares. Sebastião Salgado poderia ter registrado a cena!

Viagem seguiu. Num determinado trecho, a irmã mais velha levantou-se, olhou para os dois mais novos, aguardou alguns instantes para que os dois se levantassem e eles apearam mais à frente, sem dizer uma só palavra.

Há coisas que não precisamos ensinar; a própria natureza se encarrega em fazê-lo.

Tags: provérbio, comunicação, Sebastião Salgado, lição de vida.

ANTÔNIO CALAZANS