A Verdade que Cada um Carrega no Peito.

Não vou falar da gente! Gente está por toda parte, calçando seus sapatos, zanzando pelas ruas, abrindo e fechado a boca a todo momento, se coçando, vivendo, matando e morrendo a cada milionésimo de segundo.

Quero falar dos ventos de agosto e da insignificância da matéria diante o pensamento. Tenho quase a certeza de que tudo flui numa lógica matemática, de que cada partícula carrega em sua essência a mais pura verdade e razão de ser, de que há ‘alma’ mesmo da sequidão mais inóspita de um deserto, assim como num templo religioso ou na solidão letárgica de um monge que medita sobre a maconha.

A vida é uma força irresistível que trava batalhas diárias em prol da seqüência de seus dias, mesmo que não os reconheça como dias, é uma lanterna acesa clareando as trevas. Todo homem, todo ser vivo ‘lutará’ até a morte por um segundo a mais dentro disto tudo, deste modo de respirar, estar e enxergar o mundo.

É a metafísica!, meus filhos, diz Deus. É esta força absoluta que faz com que creiam e cresçam, é a fome que faz com que ‘caçem’, é a inoperância de seus membros exaustos que faz com que caiam no sono, é a força dos sonhos que dá vazão ao moto propulsor, o prosseguir, ao que somos, ao que queremos ser!

Às vezes, jogado na cama, olhando pro teto, o ventilador, os sons das torneiras abrindo e fechando, os passos das gentes pelas ruelas e calçadas a fio, o choro da criança, a mãe que perde a esperança, fico a indagar-me, como qualquer criança cheia de dúvidas e sortilégios, o porquê disso tudo, e tento me convencer dialogando comigo mesmo, tentando ao mesmo tempo um acalento, uma força maior que me faça reerguer mais uma vez para as coisas do mundo, por vezes ilógica, o trabalho do dia, e assim pensar na ‘previdência’, nos últimos dias, nos primeiros, recordações da ‘infância perdida’, entre os dez e os quatorze anos de idade (quanta descoberta!), os tempos passados no colégio, amores e perfumes, colegas chatos e fedorentos, tudo no desabrochar da puberdade... E assim saio de casa, com tanta coisa pra resolver, tanta conta pra pagar...

E assim continuo a pensar se ‘venci na vida’, se ‘isto’ era vencer, se realmente sou feliz, se tudo vai dar certo no final, assim como deu no princípio... E pensando há que se agir, que se existir, pois pensar apenas não basta. O homem que só pensa é um ser ‘etéreo’, quase inumano, que vaga pelo universo de seus pensamentos sem a necessidade de se justificar e tentar se eternizar de algum modo no espaço-tempo. Ele não quer esculpir na rocha os seus momentos de alegria e tristeza, o seu cotidiano, ela não quer pintar o corpo e nem sair por aí tentando dizer: “olá, estou aqui, vivo, venham me visitaar e saber de meus dias, o que faço e o que penso!!”, não, o ‘homem etéreo’ habita unicamente o seu interior. Lá tem seus amigos e seu lazer. Lá dialoga consigo mesmo sem enlouquecer, sem as mesquinharias dos homens nas esquinas, que por mero deleite destroem com palavras e gestos um possível desafeto. Talvez ele nem o conheça, mas, por não ‘ir com a sua cara’, desabafa com a ‘galera’ coisas a fim de se engrandecer perante terceiros, montando nas costas de um ausente. Cara a cara, raríssimos os que conseguem ‘criticar’ sendo justo e verdadeiro, mesmo que seja um suposto inimigo, já que inimizades, em sua maioria, são frutos da discriminação do sujeito e da distorção dos fatos. O ‘homem etéreo’ não quer nem saber disso.

Torcer a boca, franzir a testa, gesticular exageradamente, se esbravejar e se descabelar são comportamentos animais, e de nada adiantam a não ser para impressionar outros animais.

Há placidez nos sonhos e no alvorecer! Ainda resta esperança mesmo diante a desconfiança! Ninguém sabe a verdade absoluta, a não ser aquela que cada um carrega consigo no peito.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 09/08/2013
Código do texto: T4426407
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