Rótulos

É proibido sentir melancolia. É proibido sentir-se triste. É proibido chorar sem motivo. (aparente, evidente).

Vivemos uma era de proibições, em nome de nossa sanidade emocional. Em outros tempos, tínhamos o direito de, invocadas nossas alterações hormonais, chorarmos à toa, sentirmos raiva, ficarmos em nosso canto secreto, sem sermos molestadas com a ameaça moderna do diagnóstico terrível: “Estás em um processo de depressão”.

Há alguns dias, conversava com uma amiga e comentávamos sobre a temeridade de demonstrarmos nossas emoções, sem antes refletirmos sobre os efeitos que possam gerar nos experts em relacionamentos e sentimentos, que nos rodeiam.

Se manifestarmos uma certa tristeza, melancolia, sem entrarmos em detalhes profundos, sobre suas possíveis causas, é claro, estamos depressivas. É a forma suave de nos codificarem como estando em estado de depressão.

Se, ao contrário, ousarmos demonstrações de euforia, de alegria, sem justificarmos muito claramente, e aceitar nossas justificativas, depende do humor de nossos ouvintes, é claro, corremos o risco de sermos classificadas de alienadas. Estando esse nosso planeta repleto de aflições, de desastres, de violência, como nos sobram motivos para alegria?

Então, passamos a controlar nossas demonstrações de afeto, de alegria, de tristeza. Evitamos formar opinião (outra forma de dizer que criticamos), porque isso melindra, aí somos “Maria-vai-com-as-outras.

Se opinamos, geralmente “não sabemos o suficiente sobre o assunto para nos darmos o direito de fazê-lo”.

Está difícil de conviver. Estamos nos tornando pessoas chatas, complicadas, pensando que evoluímos, mas dando voltas e mais voltas, repetindo os mesmo erros. Continuamos a ter os melhores sentimentos nos lábios, mas continuamos alimentando os mesmo ressentimentos no íntimo.

Mantemo-nos na defesa, porque sabemos de nossas imperfeições e sabemos que quem convive conosco também as conhece, mas fazemos de conta que não as conhecemos, e que ninguém mais as conhece também.

É quando esse fingimento nos cansa, que começamos a nos permitir o aflorar de nossa verdadeira personalidade, do nosso verdadeiro eu. O processo é doloroso e lento. Às vezes, dá vontade de parar o bonde e saltar fora. Mas não resolveria, porque lá, na próxima parada, toda a bagagem estaria à nossa espera.

Penso que é hora de reavaliarmos tantos conceitos inúteis, que mais não fazem que atrapalhar nosso dia-a-dia. Penso que devemos voltar a viver com mais autenticidade, com mais espontaneidade, dando-nos o direito de errar, entristecer, rir, rodar, sapatear, sem medo de rótulos.

Conquistamos a liberdade sexual, ou seria melhor dizer, a libertinagem? E, proporcionalmente, nos escravizamos a conceitos e repressões outras, que nos infelicitam tanto quanto, ou mais, pois nos tolhem em nossas expressões de humor e de sentimentos.

Seria bom, podermos viver e conviver sem tantos rótulos, para nos inibir, não seria?

09/04/2007