Extintor

O Brasil me remete a um lugar sem treinamento em caso de incêndio. Vejo pessoas correndo desesperadas por todos os lados, querendo sair por qualquer fresta por menor que seja , preocupando-se unicamente se se sairá vivo ao final . Não importa o que se perde, quem se deixa, quem se atropela. Caso alguém mais sobreviva ao fogaréu incessante, que encontremos lá fora, junto aos ditos espertos. Na tentativa de sair, corpos e cabeças são pisados, quem está detrás da porta é imprensado e, ao tentar mover-se, bloqueia a saída do mutirão que reluta sem êxito, uma vez que estão todos aglomerados, enquanto isso,há alguém morrendo de asfixia noutro lugar e o instinto de sobrevivência falando mais alto que a razão em todos os demais.

Alguém se lembra do extintor, mas não sabe manipulá-lo. Outrem o manipula, mas só apaga o fogo que lhe interessa e sai deixando os demais. Há quem encontre outro extintor, mas o descobre vencido; há também aquele que nem seu peso suporta.

Tantos desmaiam esperando um milagre, outros tantos têm o mesmo destino indo à luta, à uma batalha histórica talvez, de se obstruir o próprio passado e recuperar quiçá , tudo que não fomos, toda omissão, todo o prejuízo. Enxergando-se no driblar das chamas, um ensejo de se começar de um novo ponto de partida a construir uma mentalidade progressista, com base em preceitos filosóficos e construtivistas. Desbravar um estilo de vida mais humano e altruísta, pensando na saúde e educação de nossas crianças e de como podemos ser cidadãos melhores, idôneos, trabalhadores, respeitando as leis de trânsito, protegendo o meio ambiente e praticando a leitura como fazem nos países ditos desenvolvidos. Afinal, em tese, adultos repetem o que de correto e prático já se fez outrora.

No entanto, em que situação precisa-se chegar para trazer à tona tal reflexão? Em calamidades, em um incêndio social, onde vemos pessoas contraditoriamente querendo salvar a sua pele de forma egocêntrica para a partir de então ter uma segunda chance de começar a pensar nos outros? E saindo dali, quem ficará preso ao compromisso e quem voltará para o incêndio sem treinamento? O ciclo se repete para a maioria,e o prejuízo histórico, embora não com as mesmas dimensões de outrora , permanece.