VINHO SECO

Eu fiquei pensando se talvez eu devesse ter segurado sua mão quando me ameaçou de ir embora. Mas a verdade é que meu prazer se limitava a dividir com você apenas o vinho. Eu que sempre acreditei ser o mais honesto todas as vezes em que, sozinho, buscava seu telefone na tentativa de resgatar em mim o ego pisoteado pelo meu histórico de canalhices. A honestidade talvez anulasse um pouco minha culpa por não amá-la com o mesmo amor, e me julgava justo ao lhe dar prazer em troca de alimentar minha vaidade. Ainda não consegui definir o quanto de solidão ficou nesta sala desde que você cumpriu sua promessa de não estar mais disponível pra mim, mas senti na minha alma que toda a razão do mundo saía da tua boca, quando cansada, me acusou de ter um coração mais vazio que as taças que ficaram sobre a mesa.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 14/08/2013
Reeditado em 06/09/2020
Código do texto: T4433887
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.