VINHO SECO
Eu fiquei pensando se talvez eu devesse ter segurado sua mão quando me ameaçou de ir embora. Mas a verdade é que meu prazer se limitava a dividir com você apenas o vinho. Eu que sempre acreditei ser o mais honesto todas as vezes em que, sozinho, buscava seu telefone na tentativa de resgatar em mim o ego pisoteado pelo meu histórico de canalhices. A honestidade talvez anulasse um pouco minha culpa por não amá-la com o mesmo amor, e me julgava justo ao lhe dar prazer em troca de alimentar minha vaidade. Ainda não consegui definir o quanto de solidão ficou nesta sala desde que você cumpriu sua promessa de não estar mais disponível pra mim, mas senti na minha alma que toda a razão do mundo saía da tua boca, quando cansada, me acusou de ter um coração mais vazio que as taças que ficaram sobre a mesa.