O Jeito Primário de se Esconder Entre Linhas...’

A pergunta intrigante era se seria possível se apaixonar pela nuca de alguém. Eu ri, mas ela continuou dizendo que até já o tinha visto de frente e ele era todo bonito, mas que fora a nuca do moço o motivo de fazê-la amolecer as pernas. Ainda achando um tanto estranho mas sem questionar as paixonites alheias, apenas desejei a ela que tivesse sorte. Apaixonados arrumam qualquer justificativa para o amor. Sem saber muito o que dizer, me lembrei que já fui vítima de uma paixão por um pulso largo e a deixei continuar devaneando. Ela achou estranho eu desejar sorte à alguém que vinha de outras lutas, se sensibilizava com as notícias atrozes da TV, saía às ruas gritando por justiça, participava de projetos educacionais e se via rendida à uma nuca. Eu sabia que esse era o jeito dela desabafar: fazendo rir como se nada fosse. Tentando parecer desimportante, me perguntou se eu não devia molhar as flores, e já emendou falando da estiagem. Antes que ela fugisse mais uma vez do assunto, a interrompi pedindo que ao menos uma vez, ela não tentasse regar as flores do mundo todo e cuidasse um pouquinho dela mesma. Como quem decifra todas as metáforas ela concordou dizendo: ‘você está pensando em escrever sobre isso, que eu sei’. Apenas ri sem defesa e ela continuou:

- Promete ressaltar o meu lado bonito?

Eu dei uma dançadinha no corpo imitando um samba e respondi cantando:

- “Dos nossos amores, as dores, eu não vou contar”. E ela sorriu como quem tem absoluta certeza de que “Gentileza gera gentileza”.

*Música Citada nas aspas: Eu não sou Chico, mas quero tentar - Fernando Anitelli - O Teatro Mágico.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 15/08/2013
Reeditado em 15/08/2013
Código do texto: T4435560
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