"JEQUITIBÁS" & "BONSAIS"

Estou convencida de que as pessoas se comportam ou reagem, conforme os valores cultivados e ensinados por suas famílias e professores. Há quem valorize o trabalho, o amor, a verdade, a lealdade, a sinceridade, a honestidade, a responsabilidade, o respeito, e consiga ser exemplo de tudo isso. Outros os exigem do próximo, mas são incapazes de retribuí-los, simplesmente porque quem devia educá-los ou não os tinha dentro de si, ou fracassou na tarefa de ensinar.

Meu convencimento acerca disso vem da minha experiência como educadora e coordenadora de cursos de formação de professores. Nossa tarefa seria simples se tivéssemos apenas de desenvolver nos discentes as habilidades essenciais para aquisição da competência docente. Em outras palavras, seria ótimo se tivéssemos apenas de lhes ensinar como o ser humano aprende e quais são os procedimentos e posturas adequados para que a transmissão de informações se efetive e os seus futuros alunos possam transformá-las em conhecimentos.

Tanto para os discentes que chegam ao ensino superior com bases sólidas e são provenientes de famílias verdadeiramente educadas, quanto para aqueles que são o inverso disso; o que nos cabe fazer é receber todos com açúcar, afeto e paciência. Quando esses últimos são, pelo menos, vocacionados e esforçados, nossa missão é facilitada, mas quando eles querem apenas os diplomas, encontram em nós feroz oposição, pois entendemos que educar exige ter coragem e “peito” para contrariar interesses nefastos e escusos.

Recentemente, o professor Salatiel dos Santos Ribeiro, Diretor do Colégio Cristo Rei, palestrando em evento do Curso de Pedagogia da Faculdade Pitágoras de Linhares, utilizou uma metáfora para expor o seu pensamento acerca do tipo de profissional de que a educação necessita: “jequitibás”. Esses quando se tornam árvores chegam a 60m de altura, são imponentes e dão abundantes sementes, capazes de formar florestas.

Emocionei-me com sua inesquecível fala, mas tenho complementado o seu exemplo a partir da minha experiência. Também há egressos de cursos de educação que jamais serão “jequitibás”, pois podam suas raízes todas as vezes que faltam as aulas, chegam tarde, saem cedo, colam, copiam textos da internet, apenas colocam seus nomes nos trabalhos, ou quando formados, embarcam em pós-graduações oferecidas por gente inescrupulosa, capaz de ignorar os preceitos legais do MEC. Ao fazer tudo isso, além de cúmplices e de fomentadores de todas as expressões do fracasso educacional, que muito fazem mal à sociedade; eles se tornam “bonsais”, ou seja, pequenas árvores “criadas” pelos japoneses e que têm apenas a função de enfeitar.

Como educadora, os “bonsais” me indignam e entristecem, pois ignoram que a partir da sua preguiça ou sem-vergonhice, são penalizadas não apenas as pessoas que pagam os impostos e com eles suas remunerações, mas, sobretudo, as crianças, jovens e adolescentes, que terão seus caminhos confiados a gente que, efetivamente, não adquiriu as competências expressas em papéis obtidos ilegal e imoralmente.

Minha indignação se estende aos que se calam diante dos “bonsais” e às autoridades míopes que nada veem, mas ela é menor que a minha tristeza de saber que, durante as seleções para empregos, muitas vezes os verdadeiros “jequitibás”, são preteridos por gente que também pertence à mesma espécie das “árvores anãs”.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 16/08/2013
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