Meus medos
 
 
                        Vendo uma apresentação do velho Agildo Ribeiro como professor de mitologia grega, na televisão,  vieram-me à mente as sílfides(mulheres delicadas e vaporosas), as musas, as ninfas(divindades dos bosques, rios e montanhas), zéfiro (personificação mitológica do vento) e, finalmente, o deus Pan (filho de Mercúrio com Penélope).
                        Quero me dedicar ao deus Pan. Sim, porque a moderníssima doença do pânico vem exatamente do deus Pan. Dizem que o nosso Pan assustava terrivelmente as ninfas, sempre com propósitos indecorosos.
                        E há uma passagem da guerra de Maratona em que o deus Pan causou um terror súbito nos persas, ocasionando a vitória dos gregos.
                        Pois esse terror súbito, uma iminência de morte é o que sentem as pessoas acometidas da doença do pânico, sem motivo aparente.
                        Recordo-me muito bem, quando estava com meus vinte e três anos, que tinha que levar  um parente para o trabalho dele, trazendo-o depois para casa, ao final do serviço. Isto durou uns oito meses. O parente se sentia mais confiante com uma companhia. Sozinho, vinha-lhe um súbito terror, sentindo a morte iminente. Na época davam o nome de vago-simpático. E era justamente o simpático que ficava alterado provocando o medo, principalmente em lugares amplos ou lugares com muita gente circulando.
                        A doença do pânico é facilmente curada, apesar do intenso sofrimento da “vítima”. Sei disso porque acabei afetado por essa doença, aos quarenta anos, depois de ter tido muitas emoções violentas e desgastantes na minha vida particular. Enfrentando o medo, de modo paulatino e racionalmente, acabamos  por  vencer este pânico.
                        Vivemos uma época de inúmeros medos e temos hoje mais de quinhentas fobias catalogadas pela medicina. Quando estava com  meus cinco anos, morando na rua Real Grandeza, em Botafogo no Rio, passei a ter medo de galinhas mortas. A molecada da rua, sabendo disso, aparecia sempre com uma galinha morta e corriam atrás de mim. E eu chegava a perder o fôlego. Sentia um medo mortal  Evidentemente, corria para casa. Essa fobia chama-se alecterofobia.
                        O leitor curioso perguntará se ainda tenho esse medo. Afirmo que não. Galinha morta, não!  Mas devo confessar que, assim como continuo com medo de baratas voadoras, as galinhas vivas, sim, me apavoram, ainda mais quando começam a cacarejar em altos "brados" e ameaçando voarem em minha direção.
                        Claro, disfarço bem, racionalizo e não banco um zéfiro, fugindo mais rápido que o  vento. Imagino-me como um deus Pan apreciando uma bela sílfide.  É um santo remédio para a minha fobia.
Gdantas