O Antigo e o Novo

O saudosismo como atitude nostálgica, às vezes é simples resistência ao que é novo, em algumas circunstâncias beirando a atitude reacionária, caso de pessoas que só aderiram ao computador ou celular porque obrigadas. Confesso que no caso deste último, resisti o que pude por achar uma invasão da privacidade, mas não deu para resistir às pressões, neste caso saudáveis.

Outro tipo de resistência que venho experimentando é às mensagens que chegam por e-mail, fazendo a apologia dos “nossos tempos”, ou da infância de pessoas com mais de quarenta ou cinqüenta anos. Ao lê-las, tem-se a impressão que se vivia sem doenças, traumas ou coisas assim. Há observações úteis, como por exemplo sobre a liberdade das crianças em minha rua, que permitia corrermos para lá e para cá, gastando calorias e evitando a obesidade. Mas seria ilusão não lembrar que nossas mães não sabiam onde estávamos, seja pelo amigo que vinha buscar, sabiam que estávamos na casa de quem, ou seja porque usavam outros expedientes para nos controlar.

E na casa dos amigos e na minha, havia o café da tarde: café mesmo, com leite, pão manteiga e schmier. Claro que não engordávamos como as crianças de hoje, porque as brincadeiras eram na rua, que dispunha de grandes árvores e alguns terrenos baldios para o futebol dos meninos. Meu irmão jogava descalço e uma ocasião chutou um resto do tronco de uma árvore, com as devidas conseqüências: um pé inchado por muitos dias. Até eu senti a porrada.

E quanto a mim, tive interditado o acesso às compras de balas no armazém, pela caderneta. Até hoje lembro a vergonha de não poder debitar: pudera, eu adquirira alguns vermes e me puseram de dieta!

Também não nos deixemos levar pela história de que não havia perigos: nossos pais nos advertiam sobre um sujeito que oferecia carona, em seu carro, para a gurizada do bairro. Nunca soube de alguém seqüestrado no Bom Fim, onde cresci. Talvez fosse invenção dos adultos para prevenir problemas. O certo é que funcionava.

O que penso estar embutida nestas mensagens é a questão da relação entre pais e filhos, embora haja uma frase a respeito: a gurizada nunca tinha razão. Lembro que adulto era para respeitar e pais para amar e sobretudo obedecer. Não desejo com isto cair no chavão de culpar tão somente a família pelos problemas vividos por alguns, sobretudo nas escolas com os jovens de hoje e aqui me refiro a situações graves de consumo de drogas, agressão a professores ou outro tipo de desvio.

Há mais influências hoje sobre os jovens, alem dos amigos e da escola ou cinema. O computador é uma delas e toda a mídia falada ou impressa tem um papel fundamental no desenvolvimento da violência endêmica que estamos vivenciando. Além de atitudes gerais de conformismo diante do abuso dos que conseguem uma nesga de poder. E sobre este tópico voltarei a escrever pois o assunto dá para muitos artigos.

Marluiza
Enviado por Marluiza em 10/04/2007
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