A celeuma sobre os médicos estrangeiros

A celeuma sobre os médicos estrangeiros...

Jorge Linhaça

Raramente já se viu tanta hipocrisia junta vinda da classe médica brasileira através de suas “associações”, CFM e CRM’s . Desculpem-me os bons médicos, e ainda há alguns por aí capazes de pensar por si próprios.

Primeiro: Muitos desses contestadores da medicina praticada por seus pares estrangeiros, na primeira oportunidade que têm voam pelo mundo afora para participar de congressos em outros países. Inclusive Cuba. ( que aliás não é o foco de meu texto).

Segundo: Esses mafiosos de jaleco estão muito mais preocupados com o quanto podem cobrar por uma consulta do que em tratar de quem necessita de atendimento.

Terceiro: Não são poucos os protestadores que estão envolvidos com planos de saúde quer como sócios quer como beneficiários de esquemas de atendimento captando clientes dentro do próprio SUS para cobrarem por um serviço “ de melhor qualidade” em suas clínicas particulares. Oras bolas, se o cara pode gastar mais tempo atendendo na sua clínica particular, que o faça também no SUS, coisa que é pago para fazer.

Quarto: Nunca é demais reforçar que os médicos estrangeiros estão chegando apenas e tão somente porque os nossos médicos se recusam a assumir postos de trabalho e, lugares que não lhes sejam aprazíveis, alegando até mesmo falta de estrutura.

Engraçado que esses mesmos médicos não se importam com a falta de estrutura dos lugares onde trabalham quando isso significa que horas depois poderão ir para seus consultórios particulares por vezes a poucos metros ou quilômetros do seu “serviço público”

Quinto: Erros médicos existem aos montes e os médicos que os cometem recebem o beneplácito da defesa ampla, geral e irrestrita das associações corporativistas que os congregam. Punições são coisa raríssima. Retirar a licença? Só se a mídia ficar “em cima” e o cidadão for preso.

Duvido que algum desses senhores que tanto gostam de aparecer na TV more em uma casa modesta na periferia e ande de carro popular pelas ruas das grandes cidades...isso é coisa de médicos em início de carreira ou de alguns poucos abnegados para os quais a vida humana é mais importante do que os honorários.

A gritaria desses senhores não é pelo bem da saúde pública, longe disso, é pelo bem de sua saúde financeira, pelo bem da manutenção do seu status social e do poder que detém sobre os que ingressam na classe médica.

Chega de hipocrisia, e chega de o povo ser feito de idiota por um discurso que, embora cheio de floreios e pseudo-reinvidicações, ao fim das contas apenas diz que:

“É melhor deixar o povo sem atendimento, do que serem atendidos por estrangeiros”.

Qualquer usuário do SUS e hospitais universitários, sabe muito bem que estes vivem lotados não apenas por atender os pacientes de seus próprios municípios ou municípios vizinhos, mas principalmente porque precisam atender pacientes dos municípios onde os nossos médicos não querem trabalhar .Isso causa uma sobrecarga nociva e humilhante para pacientes e profissionais de saúde que atendem nesses locais superlotados. Claro que isso atende os interesses daqueles que, conchavados com os planos de saúde que são os maiores interessados na falência so serviço público.

Aliás, diga-se de passagem, muitos desses planos de saúde atendem pessimamente, com uma superlotação absurda e filas quase tão grandes quanto as do SUS, seguindo o padrão do médico de cabeça baixa escrevendo uma receita enquanto nem olha na sua cara.

Vamos ver é se os médicos estrangeiros vão entrar nessa onda ou não. Se vão submeter-se a esse modus operandi predatório criado ao longo dos anos pelos senhores donos da medicina brasileira.

Salvador, 26 de agosto de 2013.