Como a grande maioria das mulheres, devo admitir que sou vaidosa. Parece-me até que com o tempo essa vaidade foi apurando. O foco principal: Os cabelos. Ora loiros, ora ruivos, ora castanhos, na verdade me perdi nas cores. Em resposta a uma indagação sobre a cor original de meu cabelo, exitei. Será que eram claros? Creio que sim. No entanto a fibra fina e lisa merecia um intenso cuidado. Com a aposentadoria, tive todo tempo para cuidar de minhas madeixas. Tinha que ter um profissional à altura de tamanho desafio. A escolha recaiu em Manú. Meigo, alegre, carinhoso, logo nos afinamos. A vida para Manú era uma eterna festa. O toque de Manu nos meus cabelos era uma carícia, seu riso, contagiante. De compleição franzina, apetite voraz, devorava os pastéis que eu mandava comprar na padaria da esquina. A ida ao salão tornou-se para mim, um prazer. Manu elogiava caridosamente meu cabelo e sempre tinha uma sugestão nova para um corte, um reflexo, luzes ou coisa assim. Ao término do trabalho, um gritinho de aprovação me fazia acreditar que estava linda. Essa era a função primordial de Manú. Fazer as pessoas felizes. E me fazia. Semanalmente lá estava eu a me embelezar pelas maõs dele. Ele morava perto de mim... Adorava teatro e isso nos uniu mais ainda. Tínhamos também amigos em comum em outra cidade. Um passado nos unia. Sempre saia do salão achando que nosso assunto não tinha acabado.
      Há duas semanas ao entrar no salão, imediatamente, como de costume, procurei Manú. Disseram-me que ele estava doente e que tinha ido para Campina Grande onde tinha sua familia para se tratar. Pensei na tosse que o perseguia e que o fazia sair do salão várias vezes... No entanto sabia que na outra semana o encontraria.
       Como de costume, liguei para o salão. Meu cabelo carecia de cuidados e eu de Manú. O telefone não atendia. Resolvi ir ao salão. Fui recebida por rostos tristes, extremamente tristes.
     Nem sei como foi, mas escutei, Manú morreu. De início não entendi. Morreu, como? Ele foi simplesmente fazer uns exames... Foi difícil aceitar. Manú era só vida, alegria... Como partir, sem nem ao menos me dizer adeus? Não chorei, apenas não aceitei. Foi forte e inesperado para mim, mas aconteceu.
      Ontem voltei ao salão. Uma outra pessoa me atendeu. Nenhum vínculo, tudo de forma profissional e mecânica. Talvez até meus cabelos estejam mais bonitos, mas onde o carinho de Manú? Onde o som de seu riso frouxo que me contagiava? Como deixar que outra pessoa acaricie minha cabeça como só ele sabia fazer?
       Pois é Manú, sentirei sua falta. Dificilmente você será substituido. Que tal me esperar um pouco para recomeçarmos a tricotar juntos? Ainda bem que nunca lhe vi triste. Para mim você continuará a sorrir. Boa viagem meu amigo!