VAI DAR MERDA! SENTA QUE O LEÃO É MANSO!

Isto vai dar merda!

Minha mãe era especialista, entre muitas coisas, a de contar piadas e causos engraçados para nós.

Eu me acercava dela e me divertia, me deliciava pelo modo como ela fazia a narrativa; Era uma verdadeira atriz nas representações, nos trejeitos e nas caretas. Suas palavras eram mágicas, e eu conseguia ver as cenas como se dentro delas estivesse.

Ela contou muitos causos e nos divertiu muito. Muitos deles ela criou, outros ela retirou do almanaque de farmácia.

Tenho na lembrança muitos deles e vou me deliciar como se ao lado dela estivesse ouvindo seu falar, suas graças e seu riso solto, na causo lúdico, ou talvez medonho, de um circo.

Ela sempre começava assim: Era uma vez.

Se acocorem, sentem-se onde der, e ouçam a história que ela um dia me contou!

Era uma vez um rapaz muito relaxado que andava maltrapilho, não porque não pudesse se vestir bem, mas porque desta forma gostava de se apresentar. Muitas vezes acabava dando vexame mostrando aos outros as partes íntimas que não deveriam estar em exposição.

Uma vez de cócoras, jogando bolinha de gude, deixou dependuradas ao relento suas bolas. O balançar daqui e dali despertou o apetite de um gato que por ali passava e nhac, cravou com os dentes uma das bolas. O rapaz deu um berro, impulsionando um salto mortal levando consigo o gato grudado na bola.

Muitos dias tiveram que passar até a completa cura de seu grão perfurado e inchado, mas mesmo assim ele não aprendeu a lição, e deixava os ditos cujos de seu saco livre para quem quisesse ver, ou para provocar repudio de virgens e viúvas santificadas.

As meninas evitavam se aproximar dele, e por isso o apelidaram de o "saco pelado".

Um dia apareceu na cidade um circo. Era um circo com muitos animais, e o espetáculo principal era o domador de leão exibindo-se dentro da jaula, fazendo o rei da floresta obedecê-lo e urrar violentamente.

O saco pelado deu um jeito, e conseguiu furar o cerco dos vigias adentrando sorrateiramente no circo.

O picadeiro estava circundado pela arquibancada, em tábuas de madeira, que recebia milhares de bundas, que se assentavam aguardando o início do espetáculo.

O saco pelado olhou perscrutando um lugar para acomodar seu fundilho quase desnudo. Olhou aqui, olhou acolá, e vislumbrou um lugar. O lugar tinha sido rejeitado porque era o encontro de duas tábuas, gerando assim um certo desconforto bundal. O saco pelado não pensou muito, foi lá e se assentou folgadamente, de saco solto, como sempre se assentava.

- Minhas senhoras e meus senhores agora o ponto alto do espetáculo! gritou no meio do picadeiro o dono do circo.

Abriu-se a cortina, e trouxeram para o centro do picadeiro uma jaula com um leão enfurecido. Do lado de fora o domador vinha estalando o chicote.

O povo medrosamente aplaudiu

A portinhola da gaiola abriu-se dando permissão para a entrada do valente domador.

O leão esfomeado pensou:

- Lá vem este filho de uma puta novamente estalando este chicotinho de merda! Urrou ameaçando dar um tapinha no domador.

O povo em silêncio, roendo a unha pensava em uníssono:

- Isto vai dar merda!

E deu.

O leão deu uma dentada no braço do seu tirano carrasco, sentou em cima dele dando uma bela mijada. Com duas patadas destruiu a jaula, e se pós na arquibancada no meio do povo, que em pavorosa de pé tentava se livrar da fera. E o leão enfurecido com um tapinha aqui, uma abocanhada ali, ia se suprindo de pedaços de carne humana.

E o povo, em debandada correria, gritava desvairado.

No meio da confusão, uma voz desesperada se ouviu clamorosa:

- Sentem que o leão é manso! eu conheço este bichinho!

Mas ninguém o escutava.

O povo ao levantar fez com que as tábuas envergadas voltassem ao normal juntando-se uma as outras, deixando do lado de baixo os grão do saco pelado.

Ele sentado, com o saco preso entre as tábuas, continuava gritando desesperado.

- Sentem por favor, que o leãozinho é manso!

Mas o leão, não estava nem aí, uivava, fazendo a festa.

O saco pelado nunca mais foi visto, apenas encontraram dele os grãos preso debaixo da arquibancada.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 31/08/2013
Reeditado em 01/09/2013
Código do texto: T4460912
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