No Varal da Insanidade

Estou isolado nesta casa vazia, pela fresta da porta vejo o dia acontecendo com gritos na casa ao lado e, um imenso cadeado no portão. Minha mulher sai com todas as chaves na bolsa quando precisa ir a esquina comprar alguma coisa. No interior fico a vontade com minhas abstrações e tudo aquilo que venho produzindo em riscos e letras. Recomendações dos dois últimos Psicólogos estão em cada passo que dou, dependurados na geladeira branca e na porta do quarto que durmo. Também tenho o desprazer de ler fatidicamente três ou quatro vezes ao dia bulas de tranquilizantes prescritos por Psiquiatras para entender o efeito na minha cabeça.

Até o meu patrão se deu o direito de entrar no grupo dos que me vigiam para afastar-me com a remuneração que sou agraciado pelo serviço que presto como assistente de segurança do seu supermercado. Meu trabalho é passar o dia todo olhando para as telas de televisão que recebem imagens das câmeras escondidas no interior do estabelecimento. Enquanto o chefe de segurança fica andando com sua cara de Policial Militar do Governo Geisel, desconfiando de todo mundo. É um babaca! Tanto que está sendo processado por assedio moral, pois se sentiu na idiotice de desconfiar de uma senhora grávida que mexia na barriga atrás de uma prateleira de doces, o infeliz acusou a dona de não ser gestante, mas de estar guardando furtos na região abdominal.

Mas não tenho nada a ver com isso, quero que aquele bafo de nicotina se dane. Voltando a minha clausura, não aguento mais tanta babaquice no Face book, gostaria de perguntar a certas pessoas como conseguiram retirar a massa de inteligência do cérebro para depositar tanta asneira na rede social. Tem um idiota que postou, “Ai até que enfim consegui! Ufa, pensei que seria preciso tomar um laxante!” como tolice pouca é bobagem, outro acéfalo curtiu. Na frente mais um comentou, “Acho que você me deu uma boa ideia, vou tentar de novo, fui, mas não animei ficar fazendo força, tenho medo das hemorroidas virarem aquela flor”. Assim estou precavido, ao ser solicitado para amizade vou ao nome do individuo e faço um pente fino nas suas postagens. Dentro de casa é interessante ficar no escuro e imaginar que a casa está voando, que das janelas abertas é possível observar os olhares senis dos vizinhos surpresos com alguém ridicularizando suas intimidades atrofiadas.

Ontem quando estava tentando desvendar uma forma em um orifício no chão do banheiro. Um grilo Soldado entrou batendo suas asas verdes, assustado pediu que o escondesse até que os Mastigadores se retirassem da colônia, sem entender nada e acreditando pouco, me atrevi a colocar a cabeça fora da pequena janela para ver quem eram os perseguidores do bichinho, mas uma rajada de cocôs, veio com tanta força na minha cabeça que deixou hematoma acima do olho esquerdo. Imediatamente temendo coisa pior me fechei após o banho e fui ouvir o Grilo que além da perseguição denunciada, também se dizia apaixonado pela Mariposa. Ao chegar com suas sacolas plásticas com nomes timbrados, notei que minha mulher estava sem um olho, o pior é que além de estar faltando um olho aquele que restara estava na testa, e sua boca fedia cocô de pombo.

Mas como estou numa situação critica, onde tudo que digo, Neurolepticos são usados contra mim, preferi falar com ela de cabeça baixa, ouvindo-a dizer que o preço da pilha havia aumentado, qualquer hora ela desligaria o meu cachorro. Não consegui ouvir aquilo com docilidade, pois todos conhecem o amor que tenho por ele. Preferi fugir, passando pelo interior da sua casinha vermelha, no final dos panos que ele dorme entramos em um túnel que desembocava em uma cabana sobre uma arvore vermelha de flores azuis. Ficarei descansando até que a chuva caia e o almoço termine. Acredito que neste intervalo de tempo o preço das pilhas voltem ao normal e meu cachorro volte a latir normalmente.