Para Nunca Mais Chorar

Corra riscos! Se der certo, felicidade. Se der errado, sabedoria. (Autor Desconhecido)
 
Sexta-feira, dia de almoçar com os amigos e o programa da vez foi um restaurante próximo, onde servem feijoada (com opção vegetariana, ufa!), acompanhada de boa música ao vivo. Um grupo de cordas e percussão interpretava sambinhas, o que tempera muito bem o prato mais tradicional da culinária nacional.
Num determinado momento, tocaram Chorei, de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro. Cantarolava com o grupo, quando parei no trecho:
“Eu chorei pela última vez nessa vida
Para nunca mais chorar”
Opa! Desejo isso não! Nem para mim, nem para ninguém! Claro que eu também não desejo tristezas, mas, assim como é certo que haverá alegrias, elas também virão.
Pessoas queridas nos deixarão, oportunidades serão perdidas, sofreremos ou testemunharemos injustiças, traições e mágoas.
Só tem um jeito de evitar isso: deixando de viver. Sem envolvimento, não seremos abandonados, traídos ou magoados; sem sonhos e expectativas, não haverá frustração; a inércia nos poupará das injustiças.
Mas, que existência vazia deve ser a de quem não ama, não sonha, não age. Pode mesmo estar certo de que não terá motivos para chorar, mas também não os terá para sorrir.
Melhor arriscar-se a algumas lágrimas e viver todas as emoções que a vida trouxer. Pelo prazer de um reencontro, arriscar-se às despedidas, pela esperança das quimeras, enfrentar as agruras dos pesadelos, para poder rir às gargalhadas, deixar-se desaguar. E desaguar.
O pranto é bálsamo que alivia, as dores da alma transbordam pelas janelas dos olhos, para não nos afogar. Claro que ainda quero chorar nesta vida!
A comida esfriando no prato, a música acabou e eu sigo ali, perdida em meus pensamentos, a ponto de intrigar os amigos:
- Tem alguém aí? - um deles pergunta.
Penso se devo responder. Afinal, filosofia não combina com feijoada e sambinhas. Nem mesmo filosofia de boteco. Brinco:
- “Quem canta seus males espanta”, mas como eu canto muito mal, parei antes de espantar vocês também.
Eles concordam. Rindo, os sacanas... E a música do Gonzaguinha que toca em seguida parece ter sido sob encomenda:
“É a vida, é bonita e é bonita!
No gogó!!”

 
Texto publicado no jornal Alô Brasília de 13/09/2013 e readaptado do texto Eu Chorei Pela Última Vez Nesta Vida, de 23/08/2010.