Socorro, Pronto - socorro (nossa saúde está doente)!

Não sei desde quando, nem muito bem pq, mas eu escrevo desde muito novo, o texto que posto a seguir já postei aqui, no meu blog e em blogs de amigos, mas nunk expliquei e acho que tem uma história interessante. Na verdade é um texto que escrevi pela primeira vez quando tinha em torno de 12 anos, lembro de estar em casa e começar a reclamar para meus pais de uma irritação na pele. Lá pelas tantas, a noite, fui levado pelo meu pai ao P.S e lá vi cenas que me deixaram apavorado. Lembro que logo após chegar em casa eu escrevi de forma literal, uma a uma, as cenas que vi. O tempo foi passando e fui somando o que tinha visto, as noticias sobre saúde, outrora com criticas irônicas, já reescrevi muitas vezes, mas os fatos que eu vi em uma noite quando criança se manteve na minha memória, no texto, e infelizmente na realidade dos hospitais públicos.

________ ____ ___ __ _ Socorro, Pronto Socorro __ ___ __ ___ __ ___ -__ -_ -

Esporadicamente vê-se nos noticiários brasileiros a vida por entre os corredores de nossos hospitais públicos. Em geral são imagens desfocadas, frutos de câmeras escondidas, mas mesmo estas podem captar angustiantes momentos. Como a ultrajante permanência nos corredores de um hospital, nada mais absurdo do que receber atendimento nestes em: macas, cadeiras escolares, até mesmo em pé ou ao chão. A regra das disposições por paciente é conforme a gravidade da situação. No entanto o corredor é o leito por tempo incerto, tempo esse que quanto mais você passa mais angustiante lhe é, a começar pela sala de espera. Em situação não muito recente permaneci um considerável tempo na sala de espera de um Pronto Socorro, o que me oportunizou ver suntuosos lances como: pernas quebradas, de tal forma que eu não consiga imaginar que um dia será reconstituída, homenzarrão com ferimento na cabeça escondendo-se para não o verem chorar, ou ainda mães em desespero com seus filhos convalescendo em seus braços.

É, e a espera continua... Porque a lógica de atendimento é por ordem de desgraça (ou melhor, dizendo gravidade) e não por ordem de chegada. Nada mais justo, mas isso traz em mim (q fui ao PS por simples problema alérgico) um sentimento de culpa por estar ocupando tempo e espaço de outra pessoa com problema pior. Sentimento reforçado pelo médico, orientando que eu deveria ter procurado o posto de saúde do meu bairro.

Bom! Minha resposta é única: Se a alergia tivesse me avisado de sua chegada eu teria agendado uma consulta – com duas semanas de antecedência - para este referido dia. Pois no Postinho do meu bairro é assim: consulta, só agendando com no mínimo duas semanas de antecedência. Depois de mais um “quando for assim não venha ao PS,” - afirmativa do profissional da saúde, que eu entendo e concordo perfeitamente - veio o diagnostico e a receita, e me resta trilhar corredores até a saída em que observo cenas que certamente ocorrem diariamente nos corredores: o paciente que reclama da demora em seu atendimento e o médico e/ou enfermeiro que justifica “estou fazendo o trabalho de três”.

E a situação é exatamente esta, é difícil fazer milagre. Tenho a ligeira impressão que deve ser complicado trabalhar num espaço insuficiente, com menos profissionais que o necessário, escassez de material, reclamações constantes e ainda executar com agilidade, destreza e eficiência as tarefas que dizem respeito a nada mais nada menos que a vida de seres humanos. Que profissão difícil!

Ao ver os profissionais da saúde (e outras áreas como educação, por exemplo) em um Pronto Socorro, lembro personagem "James Bond”, que realiza sozinho, tarefas das mais absurdas e perigosas com um mínimo de material. No entanto, até o "Bond" para construir uma bomba, por exemplo, precisa de uma mola, um parafuso e um chiclete. No caso dos nossos “Bond's” faltam-lhes o mínimo de material, sendo assim muito mais difícil realizar as tarefas absurdas e perigosas do dia-a-dia.

Talvez analogia com bomba não seja das melhores, pois a ideia defendida aqui não é destruir, não se defende aqui a destruição do Sistema Único de Saúde. Muito pelo contrario, construir, ampliar, e urgentemente melhor administrar.

O sistema já tem problemas, levando em conta a verba que é repassada pelos governos (que é insuficiente e por vezes sobrem cortes). Pior ainda, se os administradores municipais não gerenciarem a saúde com a concepção de prioridade que o tema precisa, nossos corredores estarão mais cheios e nossos “Bond's" estarão trabalhando por 10 e não por três.

Júlio Cé
Enviado por Júlio Cé em 16/09/2013
Reeditado em 16/09/2013
Código do texto: T4483435
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