As regras

As regras

Tanta coisa engendrada para emoldurar o ser humano em um quadro menoscabado. Discursos perenizados construídos para controlar e disseminar uma autoflagelação. Um código escrito e propagado, repetitivamente, determinando comportamentos e julgando ações que vão de encontro a uma lei que se criou e se estabeleceu.

A fim de vilipendiar àqueles que sobressaem e se destacam, inventa-se a modéstia, o discurso da desculpa – modéstia à parte – e pede-se perdão pelo talento e por elogiar algo que, o próprio autor julga que é importante, belo, essencial. A modéstia tem a aprovação do idiota, que sem qualificação julga tal ato como arrogância, dessa maneira, aprisiona o talento com o objetivo de manter um paradigma, no qual, se destacar e se elogiar é algo repugnante.

Mentiras à parte. A mentira todos condenam e apedrejam, mas, todos mentem, para si mesmos, fingindo entender a própria existência. Mentiras crédulas inventaram discursos que aprisionaram a liberdade de ser do ser humano; fabricaram a moral; criaram ordens e o exemplo condenou o homem a uma única verdade. A mentira é condenada, mas, se a verdade é provisória, como apedrejar a mentira? A vida mente para manter a existência e o equilíbrio.

Agora, o mais importante. A falsidade. Será que o ser humano é original? Lógico que não! Falsear faz parte do jogo da sobrevivência, caso contrário, tudo estaria estabelecido e uniforme. Busque o original e encontrará a falsidade escrita nas páginas do tempo. Defeito, falta de conduta moral, desvio de ética e o discurso emoldura o homem e o faz se sentir culpado por ações que lhe são permitidas. O hipócrita é apontado, mas a hipocrisia é um jogo de máscara, o ser humano veste para entrar e sair, atacar e se defender do próprio ser humano.

O discurso da vitima é aceito e o forte é, sempre, condenado. O inimigo é o mal e sempre estará errado e perverso em suas atitudes. A fraqueza humana aparece quando o adversário é o vencedor. A vingança é rechaçada e prega-se a total passividade e aceitação do fato. O homem esqueceu que deve ser ativo; o caçador e a presa, todavia, sempre, com voracidade. Vencer depois da derrota, preparando a vitória, por meio da vingança, é atitude deplorável; esse é o discurso propagado. O que é existir se não se vingar, todo o tempo, da vida?

Ao homem foi determinado a fidelidade e trair fere os códigos de moral e conduta fabricados. E trair a si mesmo se enganado e respondendo a discursos impostos? A fidelidade condicionou o homem e o acomodou em uma existência prenhe de leis e regras de manipulação.

A mentira é a única certeza que se pode ter e, por meio dela, a verdade foi inventada e se estabeleceu. A falsidade responde as perguntas e confirma a traição como libertação para o homem. Trair-se é se libertar de paradigmas e prisões milenares construídas para enfraquecer o ser humano e domesticá-lo. Vingar-se da vida é excluir todo e qualquer discurso que vilipendia a existência humana. A moral é um discurso imposto e inventado e não dá o direito de refletir sobre as suas imposições; regras de convívio para manter o equilíbrio da existência.

Mário Paternostro