As Seis Cidades do Arco Íris

A Colheita do Feijão...

O sol despontava no horizonte, num dia típico de verão. Estávamos prontos para encaminharmos para a colheita do feijão como meu velho pai havia determinado.

Mariana, menina esperta, não estava nem um pouco preocupada com o feijão, aprontava quitutes na dispensa. Seus pensamentos estavam longe, nos devaneios de criança, imaginava um grande “pic nic”. Colocou vários pacotes, delicadamente em uma bolsa de cor alaranjada com grandes alças marrom, exageradamente grande em proporção ao tamanho dela, pois, ao pendurá-la no ombro a bolsa tocava o chão, havendo necessidade que papai, usando a habilidade que sempre lhe foi peculiar, improvisasse um grande nó.

A ”riba” dizia meu pai.

Aquele caminho, que não passava de uma trilha cortando o capim verdejante, parecia não ter mais fim.

As vacas já haviam cumprido o dever matinal e se espalhavam pelas colinas.

Subíamos a passos lentos, sem a mínima pressa e tínhamos a sensação que em breve tocaríamos o azul do céu com nossas próprias mãos. A conversa fluía como se tivéssemos somente aquele momento para discutir assuntos da vida inteira. Meu irmão ansiava por chegar ao pico do morro, pois de lá, sim, poderíamos ver seis cidades de uma só vez que meu irmão nomeava, animadamente, uma a uma. Afinal eram 1.307 m. de altitude que hoje sabemos ter, mas, que naquela época sequer sonhávamos em poder medir.

Enormes pedras do tempo dos dinossauros apareciam em nossa frente como se em remotas eras tivesse havido chuva de meteoros e elas se espalhassem por todos os lados. - Meu Deus, meu pai tem terra demais... Meu irmão dizia, se referindo à longa distância que havíamos de percorrer. .

De repente, Mariana olhou para o irmão com semblante de preocupação que logo foi notado por ele, tamanho era o laço de carinho que os unia, ao perceber as enormes nuvens que se formavam no céu. Nuvens escuras que tinham a cor das pedras dos dinossauros. Raios iluminavam todo o vale, já distante, lá em baixo, pois, já havíamos subido quase a totalidade do percurso.

Não havia a menor possibilidade de voltar.

Mariana utilizando seus 98.8% de proteção em relação aos que lhe são caros, procurou uma solução. Olhando para o alto indica a pedra maior de forma triangular, colocada propositadamente com a base para baixo formando “uma gruta”, talvez projetada por algum ”exímio engenheiro”, onde meu velho pai, às vezes, colocava uma ovelha que insistia em desgarrar do rebanho. Ainda estavam lá os vestígios da última.

A lavoura estava a poucos metros, quando a chuva começou a cair, torrencialmente. Momentos intermináveis. Mariana e o irmão ficaram abraçados esperando o fim daquela tempestade que não tardou a acontecer, como é comum nas chuvas de verão.

A imagem do horizonte, vista após a chuva em tamanha altitude, estava definida ainda com a as gotas coloridas pelo sol que acanhado desapegava das nuvens, formando um arco íris que emoldurava as seis cidades para a felicidade do meu irmão. Era uma coisa inebriante. Nem os grandes pensadores seriam capazes de definir a magnitude daquela cena. Até hoje não consegui outra igual.

Talvez não dê mais para colher o feijão... Ouvimos a voz do meu pai que apavorado vinha nos resgatar... Este sim com seus 100 por cento de proteção, que ainda hoje persiste. Sentia-se aliviado por perceber que estávamos bem.

“““ “““ Mariana diz em sua sagacidade de menina: - O feijão não papai, mas, o” pic nic” vamos fazer.

Colocou, rapidamente, a toalha e as guloseimas que havia trazido sobre o mais lindo de todos os cenários, cenário de fazer inveja até mesmo aos mais renomados pintores e sonhado até pelos grandes fotógrafos, que neste instante fariam a sua melhor fotografia...

E assim se deliciaram e, é claro, Mariana até hoje não sabe o que é colher um grão de feijão. Preferiu a festa do final da colheita do café... Onde o Zé “Pasquim” se embebedou...

Mariana Quintanilha
Enviado por Mariana Quintanilha em 26/09/2013
Reeditado em 26/09/2013
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