Uma senhora muito solícita

Sabe aqueles dias de muitas coisas a resolver, correrias e idas a banco? Assim foi aquele meu dia especial na semana. Até o clima cons-pirava contra o meu bom humor, pois me preparei para aquele frio, fora da estação, que estava fazendo e ao meio dia minhas roupas fritavam bacon.

Neste mal humor, tinha mais um banco e sua porta magnética a enfrentar, para o pagamento de um boleto. Já na fila me esqueci do direito da fila preferencial, ao que uma senhora muito solícita me chamou e cedeu o lugar à sua frente, já que eu estava no banco quando ela chegou.

A gentileza se estendeu a uma série de conselhos - pois estava

com minha bolsa aberta, um perigo ser assaltada. Só que tudo dito com muitos gestos discretos e numa língua estranha, um dialeto "bebenês", ainda não praticado por mim, que naquele instante passei a me sentir uma anciã senil, ou pior, como uma jovem delinquente pega num namorico apimentado. Experiência inédita e desconfortável. E quanto mais o blá, blá, blá se prolongava, com conselhos de como se proteger, manter a calma, etc... Minha cabeça rodopiava e a roupa me sufocava. Até que chegou minha vez de ser atendida e depois de paga a conta me afastei para o guichê ao lado para tirar todo aquele agasalho, antes de pegar o troco. O que não passou despercebido àquela simpatissíssima senhora que gritava:

- Senhora, olha o troco. Danadinha, mais atenção. Mais cuidado.

E arrematou, olhando para os outros da fila e piscando:

- Coitadinha, é toda "maluquinha". Piscando os olhos e rodopiando o

dedo à cabeça, para representar uma louca.

Agradeci à educadíssima senhora e sai em silêncio. Sem dizer, à ela, do dia produtivo e consciente que tivera na parte da manhã e que teria trabalhando à tarde e parte da noite ainda, com todos os meus parafusos resguardados.

No caminho, refleti sobre minha postura em situações parecidas.

Será que já ofendi alguém com excessos de gentilezas e cuidados para com os chamados preferenciais, especiais, terceira idade, ou mais...? Ou, quem sabe, fraudei à nossa língua portuguesa criando um novo dialeto, que nem bebês gostam de ouvir?

Esse foi apenas um incidente na vida de uma pessoa, que caminha junto a uma grande parcela do país, que talvez não esteja preparado ainda, e nunca esteve, para atender e tratar pessoas mais velhas.Uma vez que só priorizamos os jovens que são o futuro. E os demais não têm futuro. De apenas um dia, que seja?

Basta a atenção e respeito que todos desejam merecer.

anna celia motta
Enviado por anna celia motta em 02/10/2013
Reeditado em 04/10/2013
Código do texto: T4508392
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