O SILÊNCIO

Já tenho dito em algumas de minhas crônicas como, frequentemente, uso o silêncio. Quando estou cansado ou preocupado, costumo abrigar-me no meu refúgio, que é o meu escritório, encosto a porta, sento-me em minha velha poltrona, reclino-a e fecho os olhos. Às vezes, quando estou tenso, faço-o acompanhar pelo som de uma música instrumental, em surdina; a música ajuda a acalmar-me. E assim passo o tempo necessário para aliviar-me a mente. Esse costume não é de agora; já o adoto há muitos anos. Tem sido para mim um hábito salutar, pois, durante o tempo de silêncio, medito sobre os problemas que, por vezes, me preocupam e, quase sempre, encontro uma solução.

Essa forma de buscar alternativas para alcançar uma saída de situações difíceis, aprendi-a com meu pai. Ele, ou buscava a ajuda de minha mãe, que era muito prudente, ou, então, sentava-se numa rede em um quartinho anexo à casa, que mandara fazer, com uma porta e janela para o quintal, outra lateral e mais uma para acesso de dentro de casa. E lá ficava repousando e meditando. Esse quartinho, depois passou a ser o meu, com minha estante, uma mesinha, uma cama e armadores para uma rede. Ocupei-o até o dia em que casei.

Pois é. O silêncio tem sido assim como um meio adotado por profetas, santos e pensadores em todos os tempos. A Bíblia refere muitas situações em que foi adotado.

Dentre outras referências bíblicas, uma narra que Moisés passou quarenta dias no deserto, em meditação. Diz Huberto Rohden que São Francisco de Assis “passou meses inteiros em silêncio nas alturas do Monte Alverne, depois do que apareceu o Cristo crucificado e lhe imprimiu as suas chagas.” Conta, ainda, o mesmo autor que “Paulo de Tarso, após a sua conversão, retirou-se para os desertos da Arábia, onde permaneceu por três anos em solidão com Deus”.

Mahatma Gandhi em um artigo “Autodisciplina e Silêncio”, diz, logo no início: “O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física e espiritual. Inicialmente, escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir, precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo, descobri o seu valor espiritual. E de repente me dei conta de que eram esses os momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus.” Todos sabem que Mahatma Gandhi foi quem conquistou, sem o uso da violência, a independência do seu país, a Índia. Conforme Hermógenes, “A caminhada em silêncio, em comunhão com a Natureza, apura a sensibilidade e o bom gosto”.

Quem conhece a Bíblia sabe quantas vezes Jesus se afastou dos apóstolos e permaneceu longo tempo em silêncio e oração.

Gosto do silêncio e da solidão, embora haja momentos em que necessito da companha de amigos, mas de amigos que se identifiquem comigo, o que agora, na velhice, justamente quando mais preciso, por vários fatores, eles se tornaram raros. Ainda bem que tenho a de Deus. O Pe. Huberto Bruening, que foi vigário da Catedral de Santa Luzia, em Mossoró, costumava levantar às quatro da manhã e ir sentar-se em um banco de uma praça próxima para ler a Bíblia. Alguém um dia lhe perguntou se não tinha medo de ficar ali, só. Ele respondeu: “Quem tem Deus como amigo nada teme.” Entretanto, para se ter Deus como amigo é preciso fazer jus à Sua estima. Não sei se a tenho, mas a invoco a toda hora.

Natal, 26.03.2013, Corpus Christi

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 03/10/2013
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